O céu escarlate dá lugar ao azul profundo do céu noturno, enquanto os três faziam coisas aleatórias para passar o tempo.
"Tudo pronto, mochilas abastecidas, amuletos especiais guardados… Vamos lá!"
"Vamos..."
Os dois respondem em conjunto, igualmente desinteressados... Porque por algum motivo, ela sempre deixava para explicar as coisas no caminho.
"Então, vou explicar nossa investigação da vez..."
Sheila começa a recitar os detalhes do caso.
No meio da noite ou madrugada, andando perto da estação.
Seja na floresta, no parque, ou na escadaria daquela estação...
A presença de crianças era notada.
Mesmo hesitantes, as pessoas se sentiam atraídas fortemente, e vão em sua direção.
As pessoas são notadas por elas, e então voltam a si na hora do próximo trem.
Se comparar tudo, vai perceber… também acordam sempre no mesmo canto da estação.
Sem nenhuma memória do que houve depois de se aproximar das crianças, e só conseguindo lembrar a aparência de uma.
"Ou seja, só precisamos andar por lá até vermos o grupo de crianças!"
"Pelo menos não inclui invadir casas abandonadas dessa vez..."
Kyou parece aliviado ao perceber isso.
"Mas nos também não vamos só esquecer do que houve?"
Makoto apontou a falha óbvia na lógica.
"Não se preocupe, meu caro Makoto… É para isso que serve este amuleto especial protetor de memórias! Ele também deve ajudar com outras coisas, aparentemente."
Sheila aponta para seu próprio amuleto, colocado em seu pescoço como um colar e escondido debaixo de sua blusa.
"...Essa coisa fofa?"
Makoto levanta seu amuleto para vê-lo melhor. Era difícil acreditar que um omamori feito com pano colorido e fofo ia proteger eles de algo assim.
"Ah! Não, precisa manter escondido Makoto!"
Ele relutantemente esconde o amuleto de volta em seu gakuran.
"Não podem manter ele exposto, eu já coloquei dentro dos omamori, mas mesmo assim é melhor esconder bem..."
"Então o amuleto real tá aqui dentro?"
Sheila então nota que Kyou fez a mesma coisa que Makoto. Ela encara ele por um segundo, e ele o esconde debaixo de sua camisa.
Mesmo que eles não acreditem nessas coisas, Sheila acredita. Não fazer o que ela pede nessas horas traz dor de cabeça, então eles só aceitam o exigido por ela, normalmente.
"No meu caso, meu laço vai esconder bem... O ideal seria você fechar o gakuran, mas acho que não deve ter problema."
Ela suspira.
"Se eles notarem nossos amuletos, é capaz de não aparecerem..."
"Então era por isso..." os dois pensam.
"Ah, chegamos. A partir desse ponto, não falem mais nada sobre a lenda ou clube, ok? Só papo furado, papo furado~"
A estação ficava em torno de 15, 20 minutos da escola. Já que a história incluía a vizinhança do lugar, eles já haviam chegado na área de efeito.
Como a área era mal iluminada, ligam suas lanternas.
Por um tempo, ninguém falou nada.
O caminho ao lado da floresta era escuro até com luzes em volta, e eles eram as únicas pessoas lá.
Ao chegarem no parque que fica logo ao lado da estação havia mais postes de luz, e desligaram as lanternas.
Kyou finalmente quebrou o silêncio logo após.
"Acho que nunca vi esse lugar tão vazio antes..."
Aquela era uma estação muito usada por estudantes e trabalhadores, aquele parque tinha brinquedos e era popular com crianças.
Eles mesmos já haviam usado essa estação várias vezes, e brincado naqueles brinquedos quando mais jovens.
Por ser um lugar tão movimentado, ver ele sem vida, envolto em silêncio e escuridão, era de certo jeito chocante.
"Sei que as coisas ficam mais calmas depois da hora do rush, mas aqui tá… Muito quieto mesmo."
Não se ouvia nem o som de animais, ou do vento soprando.
Até suas próprias vozes pareciam de certo jeito abafadas pela quietude.
Ninguém puxava conversa, só ficando parados ou olhando em volta, esperando o tempo passar.
Mas então...
"Ei, porque não vamos pra casa?"
Makoto disse algo inesperado. Sheila e Kyou olham para ele, surpresos.
Aquele homem, que até tingiria seu cabelo de loiro e arranjaria briga com policiais se sua coragem fosse questionada, queria ir para casa cedo.
"Ei mano, entendo que o clima aqui tá meio estranho, mas não acho que a gente precise sair daqui nem nada."
"..."
"E ficar aqui é bem melhor que invadir casas abandonadas..."
Do ponto de vista de Makoto, ele concorda que sair agora teria consequências.
Kyou realmente não gostava de invadir lugares abandonados e túneis antigos em nome de "investigações".
Sair mais cedo que o esperado ia deixar Sheila insatisfeita, e ela provavelmente pegaria um lugar desse tipo como próximo "alvo".
...Ela certamente o faria.
Eles tiveram sorte até agora, mas se criminosos ou drogados aparecessem seria um desastre.
Makoto entende o que Kyou quer dizer, mas...
"Tem alguma coisa estranha no ar. Não acho que deveríamos ficar aqui."
Sheila, que ouvia a conversa, percebeu que Makoto estava arrepiado.
Ela deu um sorriso brilhante como uma estrela, e brincalhão como um coringa.
"Makoto, isso quer dizer que temos ainda mais motivos para continuar aqui..."
Que mudou para um sorriso provocativo.
"Parece que finalmente chegou a hora em que vão ter que admitir que eu estava certa o tempo todo!"
"..."
Ele continuava sério, e olhava para o chão com uma cara apreensiva.
"Makoto?"
O sorriso de Sheila sumiu, e deu lugar a uma cara confusa.
Ela nunca viu Makoto assim.
"Sheila, talvez a gente devesse ouvir o Makoto? Talvez tenha um bom motivo pra terem feito 0 investigações dessa até agora… Não seria melhor a gente ver isso primeiro? Ou pelo menos ir embora por hoje."
Ela nunca parou para pensar nisso.
Ela só achou que ninguém se interessou pelo caso até agora.
Afinal, não tinha nada de perigoso nele, ou algo excitante-
Você só ia para um lugar, e não lembrava o que aconteceu…
Ela pensou que seria a diferença, a primeira pessoa a levar esse caso como possível atividade paranormal.
Mas talvez, não fosse por esse motivo?
"É, vamos só-"
Makoto levantou sua cabeça para concordar, quando viu algo na floresta.
"Crianças?"
Sem nem pensar antes, ele disse alto o que viu com seus olhos.
"Hihihi..."
"Hahahaha..."
Como se o único barulho permitido lá fosse esse, as risadas ecoavam pelo parque.
Os outros dois olham na direção.
Naquele momento, Makoto só conseguia pensar em uma coisa.
Que eles deviam ir embora de lá.
"Ei, vamos embora. Por favor."
Seus pedidos eram inúteis.
Talvez por efeito dos amuletos, nenhum deles sentia a estranha vontade de ir naquela direção…
Mas um deles nunca precisou disso para desbravar o desconhecido.
Sheila já estava à caminho, com Kyou logo atrás para não deixá-la sozinha.
Era tarde demais para fugir.
Makoto ignora a sensação de desconforto crescente, e corre atrás deles para não ficar para trás.
O ar parecia mais frio o mais perto que ele chegava, e os arrepios em seu pescoço se estenderam ao resto do seu corpo.
Será que ele era o único que conseguia sentir isso? Os outros dois não pareciam incomodados do mesmo jeito.
Quando ele os alcança, os três acabaram de chegar na frente das crianças.
Ou melhor, nas massas de escuridão em formato de crianças.
Era possível ver elas perfeitamente, até na floresta sem qualquer luz, onde nem se consegue ver as próprias mãos.
Talvez fosse como uma lanterna ser lançada em seus olhos durante o dia, uma luz mais forte pode ser notada e te cegar, e uma escuridão mais forte pode ser vista até na penumbra.
Os olhos e boca delas eram como buracos de uma escuridão mais profunda.
Suas roupas eram feitas da mesma matéria escura, que se mexia como se fosse fumaça.
No grupo de cinco crianças, havia uma única menina.
Dentre as sombras, havia um único sem face alguma.
Nenhuma delas os percebeu, e só continuavam rindo.
As risadas, que de longe pareciam de crianças comuns, de perto são…
"Hihihihi"
"Hahahaha"
São algo digno de filmes de terror.
Ignorando tudo isso, agindo como se fosse o mais natural, Sheila deu um passo, e então outro.
Até chegar na única exceção.
Makoto estava paralisado com a cena, enquanto Kyou tentou impedi-la.
"Sheila, não-"
Mas era tarde demais.
Ela coloca sua mão no ombro dele, a única pessoa não feita de sombras.
O menino comum, com penteado de cuia, e olhos vazios, que estava quieto.
"Yo, jovem!"
Talvez ela fosse a única pessoa que conseguisse sorrir naquela situação.
Ver isso fez Makoto voltar a si, e ir em sua direção, igual Kyou.
A distância de alguns passos parecia tão longa.
Desde que Sheila falou, todas as crianças sombra olharam na direção deles.
Suas risadas pararam, e o abismo que fazia seus sorrisos ficou distorcido.
Makoto sentia que ia desmaiar, mas continuava em frente.
Kyou estava logo atrás de Sheila, e estava prestes a pegar sua mão e correr para longe dali…
Mas o jovem com penteado de cuia virou na direção deles primeiro.
"Quem?"
Ele pergunta olhando diretamente nos olhos de Sheila.
Ele estava na frente deles, mas sua voz parecia distante.
Makoto, que estava mais longe, pôde ver bem-
As crianças explodindo, deixando somente o sem face e o menino que parecia comum.
Aquilo era mesmo "sombras"?
Foi como pôr um ovo num microondas.
Porque tudo parece…
Tudo parece...
Sombras que eram como órgãos, sombras que pareciam roupas, até sobrar só o sorriso distorcido e olhos como o abismo intactos, antes de se dissiparem, e…
Foi como ver uma pessoa sendo desintegrada. Despedaçada. Explodida.
Lentamente.
Graficamente.
Cada parte do corpo, em alguns segundos…
Aquelas… sombras…?
E ai, como se fosse líquida, como se fosse fumaça, aquela escuridão expandiu.
Ela engoliu todos ali.
Não tem como ver sua própria cara sem um espelho ou reflexo, isso é óbvio.
Porque?
Porque eu consigo ver minha cara de desespero mesmo assim?
E todos sumiram.
Sem deixar nenhum traço.
Como se do começo, não houvesse ninguém ali.
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