Vazio.
Uma grande sensação de vazio…
Era como estar em nada e ser nada, mas isso não durou muito.
Após lentamente abrir os olhos, o que tinha em sua frente era só grama.
Algumas árvores na distância, asfalto não muito longe.
Sim, ele tava deitado no chão, e ainda com seu óculos.
Ao tentar levantar é óbvio que sua cabeça está zonza, mas mesmo com alguma dificuldade, ele consegue.
Era mais fraco que levar um soco no queixo, então nada demais.
Aquele lugar, era o parque. Carros passavam pela rua, havia pessoas andando na distância.
Mas tem algo estranho.
Tem várias coisas estranhas.
"Makoto, Sheila…?"
Os dois sumiram.
Já era de dia, e não era de manhã cedo.
Os carros na estrada, todos modelos antigos.
As roupas das pessoas são diferentes, e o único ponto em comum era alunos usando uniformes.
"Mas que mer- porcaria é essa?"
Como ele acabou aqui, e porque tudo parece tão diferente?
Talvez aquilo fosse real, o papo do sobrenatural… Ou ele tá alucinando?
"...Eu devia ter concordado com o Makoto e feito a gente sair na hora, eim?" ele pensava.
Ou talvez só negado vir com a Sheila, mas… Ela ia só vir sozinha. Aquela obcecada pelo oculto. Então isso nunca foi uma opção.
Kyouichirou olha para sua mão, e a forma num punho.
"Melhor achar os outros dois."
Não há tempo a perder, vai saber o que diabos tá acontecendo com os outros agora.
Ele começa a andar em volta, mas nesse momento tudo muda, como mudar de canal numa TV.
"Que-?!"
Naquele momento, o cenário de Kyouichiriou se transformou completamente…
Ela também estava lá, antes disso acontecer.
Não muito longe dali, a uma pequena caminhada de distância.
Quando Sheila abriu seus olhos, ela estava em pé.
Sua cabeça estava um pouco zonza, mas ela conseguiu se manter em pé por pouco após quase cair para frente.
A primeira coisa que notou foi a luz do sol em sua pele.
Então, ao olhar em volta, que aquele era o parque que estavam antes, e que haviam várias coisas fora de lugar.
Tudo parecia mais antigo, como se aquele fosse o passado.
"Time slip!" ela quase grita, mas consegue se segurar, pois ela vê andando em sua direção ninguém menos que o menino de antes.
"Irei lhe apelidar de menino cuia." ela anota mentalmente.
Aquele menino não estava sozinho, ele andava do lado de um outro menino.
O menino parecia conversar animadamente, mesmo que o menino cuia se mantivesse calado, olhando para frente sem desviar seu olhar por nem sequer um momento.
Em alguns passos, eles chegaram perto o suficiente para ser possível ouvir o que estava falando.
"E aí Yuki, aquele novo filme que vai lançar, é o mesmo da série dos guerreiros espaciais e..."
Um mero papo casual de criança, mas que mostrava várias pistas.
O menino cuia tinha nome, então um apelido não era mais necessário, e…
Aquele filme, mesmo que Sheila não possuísse conhecimento abrangente no assunto, ela o conhecia.
Era um clássico, e parte de uma série de renome que continua até o presente, cujo lançamento data dos anos 80.
"Time slip!! Um time slip real!" ela pensava, com ainda mais vigor.
Os dois meninos passaram por onde ela estava parada, indo em direção a faixa de travessia.
Sheila seguia logo atrás, observando os habitantes do passado com um grande sorriso.
Passo a passo, o menino continuava falando, e respondia mesmo com Yuki permanecendo quieto.
"Ei, porque não vamos pro arcade? Precisamos comemorar as notas boas! Minha mãe disse que você sempre precisa comemorar esse tipo de coisa pra incentivar a tirar ainda mais notas boas… e podemos jogar aquele jogo novo que saiu anteontem!"
Naquele momento, eles haviam acabado de chegar na faixa, com Sheila logo atrás.
Os dois meninos estavam virados para a rua, esperando a luz ficar vermelha e os carros pararem de passar.
Assim que o menino disse aquilo, a cara de Yuki mudou.
Medo, seus olhos se encheram de terror puro.
Seu olhar, que se mantinha o tempo todo diretamente para frente, mudou de foco para os carros.
Foi sutil, mas Sheila percebeu.
Que ele quase se jogou para frente, no meio dos carros, naquele momento.
"Algum problema, Yuki?"
E foi parado por essas palavras.
Yuki ficou cabisbaixo.
Ele lentamente balançou sua cabeça em um "não".
O sorriso dela sumiu.
Como alguém bêbado que ficou sóbrio depois de levar um tapa na cara, ela finalmente percebeu o clima pesado pairando por aquele lugar.
Ela finalmente deu ouvidos a sensação de "tem algo muito errado aqui".
"Ah, olha! Podemos atravessar!"
No momento seguinte, quando ele põe seu pé na faixa...
Yuki continuava cabisbaixo, mas Sheila conseguiu ver.
Suas mãos, que seguravam as alças da mochila com força, estavam tremendo.
Porque? A resposta parece vir mesmo sem ser feita uma pergunta.
No momento em que Yuki hesitantemente deu mais um passo à frente, o cenário mudou.
Como virar a página de um livro, ela estava em um lugar completamente diferente...
Mas antes disso acontecer, não muito longe dali.
Havia uma pessoa.
O terceiro do grupo.
Makoto volta a si, e sente algo em suas costas. Ele estava apoiado numa árvore, talvez?
Um cheiro incomum imediatamente chega a seu nariz, e antes mesmo de poder abrir seus olhos…
"Um paraíso, um paraíso~"
Seus ouvidos escutam algo.
Corta, corta, corta.
O som de algo líquido jorrando.
"Haha! É uma maravilha."
A voz de um homem. Uma voz eufórica.
Makoto lentamente abre seus olhos.
Ele estava meio zonzo, mas a adrenalina fez ele se recuperar quase imediatamente.
Parecia ser o meio da floresta do lado daquele parque que estavam antes.
Os barulhos vinham de trás, ele realmente estava apoiado numa árvore.
Ele usa a árvore como esconderijo e tira só sua cabeça para fora com cuidado, para olhar na direção.
Vermelho.
Espalhado pelo chão todo.
Tem uma pessoa no meio daquele vermelho, segurando uma serra gigante. Ele olhava para o chão com um sorriso genuíno.
E uma pessoa em seus pés…
Uma pessoa em seus pés…
A… pessoa em seus pés…
Aquele cheiro era...
Makoto rapidamente se esconde de volta atrás da árvore.
Ele cobre sua boca com as duas mãos, é como se seus olhos fossem pular para fora.
Toda a força de seu corpo some, e ele desliza lentamente ao chão, sem fazer barulho algum, enquanto prende sua respiração.
"Se aquele homem me notar, eu vou morrer."
Essa única frase ecoava infinitamente em sua mente.
Parecia que seu coração ia parar a qualquer momento.
Aquelas imagens, vividamente.
Aquela pessoa, aquilo que era uma pessoa, mesmo coberto de sangue dava para ver.
Aquela pessoa tinha chorado, aquela pessoa morreu desesperada.
Era possível ver aquilo… mesmo com sua face desfigurada, até mesmo queimaduras…
Pela face...
O braço decepado, ele estava quebrado, o osso estava com uma fratura exposta.
O que provavelmente era a mão, era como carne moída.
As pernas estavam tortas, dobradas em várias direções.
Era como um boneco de papel amassado.
Um humano sequer era capaz de algo assim? Qual era a força daquele homem?
Ele usava um casaco verde, agora vermelho, mas mesmo assim não parecia alguém musculoso, e parecia ser só um pouco mais alto.
Como ele fez aquilo?
"Ah, morreu."
Ele devia estar feliz? Que voltou a si depois do fim, que não teve de presenciar aquilo ao vivo?
Makoto viu aquela cena por apenas um segundo, mas ela foi queimada em sua memória.
Ele remoia cada detalhe, cada pequena coisinha.
Os vários cortes menores pelo… corpo.
Os líquidos que não eram vermelhos, talvez o conteúdo do estômago da vítima.
O jeito que o que parecia ser os pés estava fatiado e deixado num canto. Era como picadinho de carne… posto numa fresta de vidro… ele mostrou isso para a vítima antes de...?
Makoto sentia o que ele comeu antes de sair da escola voltando a sua boca, mas parou a ânsia de vômito com pura força de vontade.
Seu corpo queria tremer, mas ele não deixava.
Ele não podia prender sua respiração para sempre, mas limitava ela ao máximo.
"Eu não estou aqui. Eu não existo. Me ignore."
Todas as suas ações gritavam isso.
"Bom. Hora de ir a próxima festinha!"
Aquela voz, ela era euforia pura. Ela fez cada pelo em seu corpo ficar em pé.
"Já tenho tudo pronto, qual vou primeiro… Ah, já sei!"
O barulho de algo pesado caindo no chão, era a serra?
"Agora sempre é… o pacote família! Fico tão feliz que eu me esqueço às vezes."
Uma risada ecoa pela floresta.
Não muito depois, o cenário muda.
Makoto se vê em um lugar escuro, com um pouco de luz vinda das pequenas frestas acima.
Ele está envolto de roupas e casacos.
Ele se levanta com cuidado e pode ver onde está, parece ser dentro de um apartamento.
Tem um senhor de meia idade vendo TV, uma mulher fazendo comida na cozinha mais a frente, e uma menininha que parece ter acabado de chegar da escola.
Makoto ia abrir a porta e tentar se explicar, quando ele ouviu uma outra porta abrir.
"Boa tarde~"
Uma voz que fez ele virar uma estátua, parando imediatamente.
"Bem vindo de volta irmão…? Ué, quem é você?"
Alarmado pelo que a menininha disse, o senhor de meia idade, que deve ser seu pai, levantou do sofá e foi em direção à porta.
A senhora na cozinha parou e foi ver o que estava acontecendo.
"Quem é você?"
O homem de meia idade encarava a porta.
"Olá, eu só vim visitar! Na verdade, sou um amigo do seu filho."
A voz que vinha da porta era sem dúvidas daquele homem.
"Um amigo do Yuki? Da próxima vez bata primeiro antes de entrar."
Ao ouvir isso a senhora que vinha ver a situação deu meia volta e continuou a cozinhar.
A menininha saiu andando, provavelmente até seu quarto.
"Desculpe, desculpe! A porta estava aberta então achei que não teria problema."
Aquele homem para bem na frente de onde o armário estava.
"Vamos, não adianta se esconder, sei que está aí."
Naquele momento, seu sangue gelou.
"Se quiser fazer uma pegadinha, tente melhor! Yuki vai te notar na hora."
Diferente do casaco verde de antes, ele usava roupas sociais estilosas e coloridas. Parecia tão jovem quanto alguém do ensino médio.
Ele realmente parecia alguém normal.
"Com quem está falando?"
O senhor de meia idade acha isso estranho, o amigo de seu filho começou a falar com um armário, quem não acharia?
Aquele homem é um assassino.
Aquele homem consegue fazer pessoas virarem… aquilo.
Ficar no armário não vai ajudar.
Ele precisa sair.
Se ele sair, ele pode tentar fugir.
Talvez aquilo de antes fosse um sonho ruim?
Não.
Certamente não.
A única saída é sair dali.
Você precisa sair.
Ficar parado aí é inútil.
"Vai demorar muito?"
Ele continuava sorrindo.
"Não se preocupe, não vou brincar com você agora."
Era o sorriso digno de um santo.
Makoto lentamente abre a porta do armário.
"Pessoas como você são uma raridade, sabia?"
Ele então se vira ao homem de meia idade, que está surpreso por ter alguém lá.
"Este é outro amigo do Yuki, ele queria fazer uma pegadinha, sabe?"
Makoto não sabe as intenções do homem.
Ele só sabe que…
Vai acontecer algo horrível, e ele não tem poder algum para impedir isso.
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