As primeiras palavras que ouvi de um corpo que apareceu na tempestade de fumaça e folhas. Tudo isso no primeiro dia na minha nova cidade e na nova casa?
Essa fumaça se dissipou gradualmente fazendo aquele guaxinim tossir sem parar e ficar abismado por essa muvuca. Se ele está abismado, imagina eu? Eu só podia ver o corpo do novo integrante melhor. Ele usava um casaco amarrado na cintura, um colar de enormes esferas, sem camisa e chinelas de madeira. Essa imensa anatomia em comprimento e largura, estatura baixa, grande e felpuda cauda marcada com um rastro. Mesmo com essa feia anatomia, sua pose era nobre de um guerreiro. A espécie...
Outro guaxinim? Sério? Guaxinins são comuns por aqui?
Ele relaxa seus braços e olhava para o ladrão que estava como eu: entendendo absolutamente nada. O ladrão apontou ao outro com insegurança e ameaçado, mesmo tentando encarar.
– Merda! O que diabos é isso? Quem é você?
O ladrão parecia assustado pelo tom de voz. O outro levou um breve susto e olhou ao redor que ele se encontra, desconfiando de tudo que havia. Depois, ele deu uma olhada no ladrão e é como uma maldição que congela os olhos dos outros. O ladrão não estava tendo paciência para nada.
Uma diferença óbvia entre eles é a cor. O ladrão é o clássico cinza escuro de manchas brancas com pretas; o outro tem cor de creme com rastro marrom, brilhante, admirável e difícil de encontrar.
– Quem é você? – o ladrão gritou estressado. O gênio, vou chamar assim, olhou com dúvidas.
– Eu? Eu sou Ken Yoshihiro, Guardião do Vento. E você é quem?
O misterioso “guax” cruzou seus braços e encarava o ladrão sério com um sorriso no rosto que não sei de onde tirou. Ele parecia confiante para uma situação péssima. Eu só espero que ele saiba o que está dizendo.
– Pare de piadas, baleia! – o ladrão rangia dentes rangendo que dava para ouvir daqui. Tentei me levantar e ficar no fundo do quarto ou em cima da cama abraçado com o vaso. – Você e esse chorão irão ficar quietos aqui se você não quiserem morrer.
– Morrer? Por quem? Você? – ele deu uma risada que ecoou no quarto com essa ofensa. Não gosto nada disso. – Quem pensa que é?
– Fazendo graça comigo? – Ele avançava devagar na direção do gênio com o punho cerrado. – Melhor calar a boca!
Em um rápido momento, o ladrão preparou para dar um murro na cara, mas foi bloqueado facilmente. Não parecia ter esforço vindo do gênio porque mau saía de sua pose. Eu só via porque estava curioso para saber o que aconteceria desde que esse caos começou – e porque não tem como eu sair daqui.
Essa curiosidade que matou o gato, como sempre ouvi. Raposas são abominações nesse quesito.
O ladrão ainda rosnava e encarava o outro que mantinha a calma e intacto.
– Que atitude rude!
O gênio, depois de dito isso, rapidamente virou o punho do ladrão para a direita e o fez voar direto ao chão com uma pirueta. Fiquei arrepiado quando vi um gordo que veio de um vaso saber como executar um golpe tão marcial. O ladrão ficou mais estressado, obviamente. Ele se levantou e avançou novamente contra o outro, mas seus golpes foram desviados duas vezes e na terceira houve o bloqueio com uma mão.
– Gordo rabugento! – ironia vindo dele.
– Gordo eu sou, mas não deixo ninguém passar por mim fácil.
O gênio sorriu e deu um murro no rosto do ladrão, tão pouco esforço para fazer o invasor cair para trás cansado. O gênio andava para a direita cercando o ladrão enquanto eu me senti levemente seguro por estar sendo protegido por alguém, uma divindade que clamei e veio esse troço. Só não sei quem é ele para confiar tanto.
E é hora de pensar sobre isso?
O ladrão se levantou, mas ficou parado rosnando e olhando para o gênio.
– Está cansado. Melhor não se esforçar demais – o gênio respondeu com um tom aconselhador. Em uma breve briga ele inventa de dar conselhos, mesmo agarrando na camisa do ladrão para levantar.
– Por favor... me deixe longe da polícia – o ladrão suspira.
– Polícia? Parece cúmplice de um crime.
– E é!
Oh... respondi no surto e cobri minha boca. O dois olharam para mim de repente. Por que eu abri a boca?
O ladrão virou para o gênio e tentou dar um soco novamente. Perto ele não poderia errar, só que o gênio o empurrou e vi algo que me deixou em choque. O ladrão estava flutuando misteriosamente e se mexendo no ar. Aquilo era loucura para mim.
Eu sei que não é boa hora de conversar sobre mágicas e meus gostos. Eu só queria ficar longe de toda essa baderna, mas aquilo estava se tornando fantasioso demais. O gênio botou a ponta do dedo no focinho do ladrão e sorriu parecendo que ele colocaria o fim nele. Não sei onde ele tira tanto sorriso para expor.
– O que pensa que está fazendo? – o ladrão resmunga. – Me tire daqui!
– Com prazer.
O gênio abriu suas mãos e as posicionou debaixo de sua boca como que fosse soprar pétalas. Pior que isso, ele respirou e assoprou um forte vento que provocou uma tempestade em direção à janela. Eu senti todo esse vendaval no meu quarto e me deitei abraçando forte na cama com enorme medo de ser levado junto.
Eu não conseguia enxergar nada. Era impossível de abrir os olhos. A única coisa que eu escutava era o ladrão gritar e sua voz desaparecer com o tempo. A tempestade arranhava os sons que o canto era assombroso; ainda bem que parou quando o gênio fechou a boca – penso eu. Ele respira devagar e endireita a coluna. Quando ergo o rosto que estava beijando a cama só tinha ele na frente da janela e nenhum sinal do impostor. Mais curioso é que os móveis não pareciam sair do lugar de forma brusca. Foram empurrados e apenas isso.
– Onde… Onde está o ladrão?
– Ele era um ladrão? – o gênio tinha me olhado com uma sobrancelha levantava de dúvida, mas logo apontou para a janela sorrindo. – Ele voou.
– Voou? – eu gritei nada seguro. – A polícia vai achar ele?
– Certamente, se eu souber o que é – ele olhou em dúvida por conta da frase. Ele não sabe o que é uma polícia? – Ladrões nunca têm punições agradáveis.
– E se ele voltar?
– Não se preocupe, Mestre. Ele pensará duas vezes antes de invadir seu sagrado lar.
“Mestre”. Eu ouvi direito? Devo estar com a pressão alta, sonhando talvez. O que é real, afinal?
Vendo ele um pouco melhor, ele tem olhos puxados também, manchas marrons nos olhos e uma marca de uma folha verde na testa, bem no centro. Mesmo avaliando o seu visual, não posso ficar com essa pergunta presa na língua:
– Quem é você?
Eu já tinha perguntado isso, não já? Ou foi o ladrão que perguntou?
É o medo que está fazendo minha cabeça viajar.
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