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Fatalismo - Livro Um - A Era Dos Lobos

Capítulo 03 - parte 02

Capítulo 03 - parte 02

Jan 18, 2023

Em Nova São Paulo do Sul, quando alguém precisa de uma avaliação clínica e tem alguma demanda de tratamento, o único local onde é possível encontrar médicos, fica em uma região mais ao sul chamada de Centro Operacional da Alcateia.

Um imenso aglomerado de diferentes edificações altamente tecnológicas que, além de gerir a segurança provida pelos lobos, também é responsável pela manutenção sanitária da nação. Localizada estrategicamente entre a Serra Militar da Alcateia e a Cidade Modelo, o Centro Operacional ajuda a manter a vigília dos infratores exilados no Vale das Ruínas.

Ter uma saúde considerada boa é um privilégio na nação. Tudo o que é utilizado, ofertado e cada serviço prestado deve ser pago. Em Nova São Paulo do Sul não existe mais dinheiro vivo, as pessoas precisam confiar em uma contagem de créditos da moeda digital instituída pela Alcateia. Um custo alto para pessoas que vivem em um mundo onde respirar na rua sem o filtro de ar pode ser mortal.

Logo na entrada, todos os visitantes recebem cartilhas e informes a respeito dos níveis de poluição e sobre o cataclismo ambiental. Neles constam informações sobre o MG.N.8, sintomas de intoxicação, riscos à saúde e como proceder caso algum conhecido manifeste sintomas de envenenamento. Gabriel considera um desperdício de papel, essas informações rasas e repetitivas, de uma nação que existe como se vivesse sob uma redoma de vidro.

A única parte do informe que poderia explicar a origem desse veneno, conta apenas a partir de quando a Alcateia, no passado, começou a ministrar para os sobreviventes um medicamento que, além de prevenir a intoxicação, também reage no organismo provocando efeitos colaterais e alterando a cor do sangue, deixando-o com uma tonalidade roxa.

Enquanto passa pela triagem de atendimento e procura um lugar para sentar e esperar, ele lê tudo.

― Disso tudo eu já sei. Não falta mais nada que eu precise saber? ― Ele pensa consigo.

Há uma fila imensa onde os habitantes conseguem retirar a quantidade mensal de suas doses de remédio no Centro Operacional da Alcateia. Mesmo que tenham o mesmo objetivo, diferentes corredores e alas separam os atendimentos dos cidadãos que vivem em áreas diferentes. As filas que compõem o atendimento dos cidadãos que vêm da Colmeia são as mais cheias. Gabriel se pergunta se convém ao IV Líder Alfa que esse veneno esteja espalhado pela superfície do planeta.

Pessoas na fila relatam e conversam entre si sobre como se sentem ao tomarem o Bluebird, mas sequer precisa parar e ouvi-las, pois são visíveis os efeitos colaterais de apatia, diminuição dos reflexos e sensação de fraqueza que atinge a todos que consomem o remédio. Essa droga diária consumida pela população cobra um preço humano a ser pago pelo benefício de um corpo não envenenado, que é a transformação gradativa dos homens em seres domesticáveis. São essas mesmas pessoas que se conformam com o mundo em que vivem. Nem todos os habitantes possuem créditos suficientes para pagar pelos remédios e atendimento. Famílias se endividam e ficam sujeitas a um débito com a Alcateia que nunca será paga.

Não é o caso de Gabriel, que já conseguiu transferir e pagar a quantidade suficiente de moedas para ser atendido em um horário que seu pai não descubra que está ali enquanto falta mais um dia de aula na academia. Gabriel sabe que não é raro que um cidadão perca alguns de seus comprimidos do Bluebird e irá valer-se disso como desculpa para conseguir preencher a lacuna dos que consumiu em excesso. Há meios para que descubram se a pessoa consome além da conta ou se, inclusive, trafica comprimidos para pessoas mais pobres que não querem pagar as taxas cobradas pela Alcateia.

Enquanto espera em uma sala branca imensa e circular, com câmeras de vigilância ao centro, ele lembra de quando Ruan, durante o intervalo entre as aulas, contou para ele e para Hugo uma história em que havia um morador da Colmeia, próximo de onde ele vive, que ascendeu e foi viver na Cidade Modelo, levantando muitas suspeitas por parte da Alcateia.

Mais tarde, foi descoberto que ele conseguia revender seis vezes mais que a quantidade de Bluebird permitida a um cidadão portar.

Aparentemente ele revendia os remédios para moradores da Colmeia e do Pantanal Perdido a créditos mais baixos. Ele e seu irmão, um sargento lobo que agia com ele no esquema, foram executados em uma praça histórica, nos assentamentos do Pantanal, diante de dezenas de pessoas que compraram os remédios deles. As pessoas identificadas no local foram exiladas para o Vale das Ruínas.

Gabriel tem medo de ser confrontado por algo parecido, mas não quer expressar ansiedade. Estar ansioso não combina com uma pessoa exemplar da Cidade Modelo.

Ele evita olhar para as câmeras ou para as pessoas que trabalham no local diretamente, e volta a encarar o papel do informe que já lera repetidas vezes. Vestido com roupas de tecido comum e fino, cobertas por um imenso xale para se aquecer, ele disfarça que deveria estar estudando em vez de aguardar para ser atendido.

Mesmo considerado maior de idade, estudantes do último ano são obrigados a prestar contas de seu desempenho para a Alcateia. É no último ano que muitos se veem forçados a fazer o juramento e se tornam soldados lobos.

― Gabriel! Sr. Gabriel!
Ele ouve seu nome ser chamado, ação que desfaz os seus pensamentos e lhe deixa focado no momento.

É sua vez de ser atendido. Um soldado com uma farda diferenciada, assemelhando-se à um uniforme de enfermeiro, recolhe e confirma a identificação ocular de Gabriel, e o acompanha até a sala onde deverá ser consultado.

Ele sequer bate à porta da sala, com o seu cartão de acesso abre a porta e entra acompanhado de Gabriel logo em seguida.

― Doutor, aqui está o paciente nº 78, essa é a ficha dele, mais o histórico pregresso.
― Obrigado, soldado. Ainda tem muita gente lá fora para ser atendida?
― Estamos com dois médicos em falta que atendem a área da Colmeia, então está bem demorado, o fluxograma. É provável que alguns daquela área sejam encaminhados para que o senhor atenda, eu te aconselho fazer consultas rápidas. Pode ser de 15 minutos para cada um?

Gabriel se mantém quieto e de pé enquanto percebe o médico sentado à mesa expirar com um ar de cansaço e acenar com a cabeça, com uma expressão de conformidade.

― Vou fazer o que posso, soldado. Por favor, jovem, sente-se.

Gabriel se acomoda na cadeira em frente à mesa. O soldado sai e a porta da sala é fechada automaticamente e trancada pela fechadura eletrônica.

Como aconselhado outrora, a consulta transcorre o mais rápido possível. A amostra de sangue é recolhida, os sintomas são descritos resumidamente e o médico, mesmo que contrariado, nem se dá ao trabalho de avaliar Gabriel detalhadamente.

Da mesma forma que entrou no consultório, também saiu. Escoltado pelo lobo que lhe entrega os remédios e também recebe do médico o relatório, amostras e resultados da consulta. Gabriel se questiona sobre qual deve ser o diagnóstico final da consulta, já que não é informado às pessoas, apenas repassado para a Alcateia. Antes mesmo de descobrir que está com níveis elevados de intoxicação, os lobos já sabem de tudo o que acontece com o seu corpo.

Há tempos não se consultava, então esqueceu como era a sensação de ser atendido ali, porém entendia a conformação do doutor. Como consequência do cataclismo ambiental e crise na saúde mundial, a profissão de médico foi uma das que mais ascendeu em status na nação. Uma ascensão que vem acompanhada de um alto preço social. Enquanto esses trabalhadores recebem os benefícios como moradia exclusiva na Serra Militar e serem a única população civil que, junto da Alcateia, possui acesso à rede de internet e tratamento gratuito, eles também vivem suas vidas escoltados e submetidos a horários programados pelo próprio regime militar que governa a nação. Apesar de muitos serem também lobos, Gabriel sente um misto de admiração e pena por parte dos que não o são pois, mais do que o restante da população, eles abdicam da pouca privacidade existente em Nova São Paulo do Sul para tentar salvar vidas.

Gabriel deixa o Centro Operacional com seus comprimidos em mãos. O medo de ser detido por estar intoxicado foi aplacado pelo menos por hoje. A viagem é longa, fria e monótona, mas não esboça incômodo, está novamente medicado.

Apesar de sua visão acompanhar as horas quase como mira travada no alvo. O trajeto em direção à Cidade Modelo é familiar, apenas essa área do país possui uma arquitetura construída para que pareça bonita aos olhos de quem observa de longe, porém algo novo que ele nota é que, quanto mais próximo do Centro Operacional, menos povoado é.

Enquanto espera que a linha de uma das estações, ainda na região do Centro Operacional, seja liberada, o vagão permanece vazio somente com Gabriel dentro. Prestando atenção ao seu redor, ouve passos pesados e rápidos se aproximando da porta de entrada. Um indivíduo que caminha quase correndo passa pela lateral da janela e, ao notar que tem alguém dentro do vagão, reduz as passadas, apropriando-se de um andar mais brando.

Gabriel fita essa pessoa; vestida com calças usadas pelos soldados para treinamento, e que parecem muito largas para seu porte físico, um imenso casaco de frio surrado, com o capuz levantado, que cobre o blusão da farda mal arrumada dentro da calça e uma máscara de pano cinza que cobre parte do rosto.

Aparentemente trata-se de um homem com altura semelhante a dele.

O indivíduo passa diretamente pela entrada do vagão que dá visão a Gabriel e segue caminho até o próximo, mas antes, volta o olhar em direção ao lado de dentro. Retirando a máscara do rosto, respira como se precisasse inspirar mais ar naquele momento. Olhares se cruzam, a paz medicada de Gabriel torna-se iminentemente perturbada por um pânico silencioso. Em dezenove anos de sua vida nunca se sentira assim, sua boca abre e as mãos tremem.

A pessoa do lado de fora, na estação, para de andar, está longe e imóvel olhando para Gabriel.

― Hugo? ― Ele pensa.

― Impossível, mas esse é o Hugo. Uma mensagem informa que os trilhos foram liberados. A porta se fecha e Gabriel levanta de seu assento em vão, enquanto que o trem volta a se mover. Hugo está sumindo de vista. A viagem é retomada em seu trajeto normal, deixando o Centro Operacional.

Dentro do trem, há apenas um Gabriel nervoso e solitário no vagão. Uma voz eletrônica ecoa no espaço, conflitando com seus pensamentos. É a transmissão diária das palavras de ordem da nação.
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Como ambos serão capazes de escapar da ditadura em que vivem, e de obter poder suficiente, para confrontar a realidade perversa a que estão submetidos diariamente?
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