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Fatalismo - Livro Um - A Era Dos Lobos

Capítulo 05

Capítulo 05

Jan 25, 2023

― Você tem certeza de que é assim que funciona esse aparelho?
― Eu acho que sei o que estou fazendo, Gabriel.
― Sua resposta me passou muita segurança, Hugo, especialmente sabendo que nos resta apenas trinta minutos para o fim do intervalo
― Só fique de olho pela fresta da porta e me avise se alguém estiver vindo. Já estou quase acabando aqui.

Um pequeno ruído ecoa pela sala vazia, que já havia se tornado o ponto de encontro mais comum entre os dois, a antiga sala do laboratório de rádio.

Os dois estão com os seus uniformes da academia amarrotados e soltos pelo corpo. É um dia peculiar no Vale Histórico, com vários picos de elevação de temperatura. Algo que a população não está acostumada e muito menos os estudantes, com seus uniformes muito arrumados e que seguem complicada etiqueta de vestimenta. 

Hugo e Gabriel querem se livrar desses códigos de conduta.

― Estou quase.
― Diminui esse barulho, alguém do lado de fora pode acabar ouvindo.

O ruído foi sendo substituído por uma voz feminina que, aos poucos, soou nítida e audível, ao mesmo tempo em que Hugo mexe e gira vários botões, sintonizando e regulando o volume.

― Isso que você me trouxe para ouvir é a palavra de ordem da nação, Hugo.
― Você não entendeu, Gabriel. Eu realmente apenas sintonizei na palavra de ordem da nação, mas o que eu quis que você visse é que, esse aparelho de rádio é de antes do calendário vermelho. Talvez até de antes da Grande Guerra Civil Mundial. Ele deve ser capaz de sintonizar transmissões do mundo todo.
― Isso ainda funciona? Quer dizer que esse aparelho é mais antigo do que Nova São Paulo do Sul?
― Deve ser. Não se vê mais esse tipo de tecnologia nos dias de hoje.
― Não temos quase nenhuma tecnologia.
― A gente não tem porque a Alcateia não permite, mas elas ainda existem.

Gabriel fecha e se afasta totalmente da porta. Ele se aproxima de Hugo, que está mais ao fundo da sala.

― Como pode estar abafado nessa época do ano? Nós passamos meses quase morrendo de frio e, de repente, o planeta decide virar uma sauna?

Ele tira a camisa do corpo, e fica apenas com as calças do uniforme. Jogando o restante das peças de roupa da academia sobre a mochila, Gabriel se abana com o próprio material de aula para espantar a falta de ar circulante na sala.

― A fabricação disso parece ser tão diferente do que temos, Hugo.
― Nós sequer sabemos de onde vem o que temos, tudo deve passar pelas mãos deles antes de chegar às nossas. ― Será que eles sentem medo do que podemos fazer se tivermos acesso a tudo isso?
― Tudo isso o quê? Tecnologia, internet, comida e água decente?
― Mais ou menos, Hugo. Sempre que pego os trens em horários de muito movimento, percebo tanta gente se sentindo cansada e frustrada que dá medo de imaginar se todos tivessem acesso a, sei lá, armas da Alcateia.
― Não podemos pensar que todos vão se comportar igualmente aos lobos, Biel, então nos privar de ter coisas básicas, para mim, não soa certo.
― Eu entendo. Na hora da entrada, Ruan comentou comigo que eles estão sem água no prédio inteiro há uma semana. Aparentemente o magistrado da área cortou propositalmente o fornecimento e colocou os moradores em uma lista vermelha de devedores da nação. A família dele e todos os vizinhos foram comprometidos.

Hugo para de girar o dial e tenta descobrir algo além dos ruídos, confrontando-se com a voz da locutora.

― Sinto muito por ele. Será que antigamente as pessoas também viviam esses mesmos problemas?
― Se ao menos soubéssemos o que causou o cataclismo ambiental...
― Como esse aparelho é de antes da Alcateia, será que é possível usarmos ele para descobrir outros sinais fora daqui?
― Você diz, outras nações? A Alcateia exila quem for flagrado tentando deixar o território. Hugo, é crime de conspiração ter contato com gente de fora.
― Mas eu acho que é possível, Biel, mesmo que não seja permitido.

Hugo abaixa o volume do aparelho, a transmissão ainda soava entre a conversa deles, e desliga-o de vez no momento em que o hino nacional começa a tocar.

Acariciando a mão de Gabriel, dá um beijo em sua nuca e depois nos lábios.

― Biel, você já sabe como eu me sinto com relação a termos que tomar essa droga diariamente. Eu sei o risco que estou correndo se insistir em coisas que não são permitidas, mas eu não quero que você também faça coisas ilegais só por estar ao meu lado, você não merece essa exposição.
― Calma aí, jovem.

Diz Gabriel enquanto, já sentado no chão, envolve a cintura de Hugo com as pernas e o abraça.

― Sabe, Hugo, quando estou a sós contigo eu me sinto muito mais confortável do que na minha casa.
― Talvez você ainda precise encontrar algo especial que possa chamar de lar.
― Você quer ser o meu lar?

Ambos voltam a se beijar. Hugo fecha os olhos e recosta a cabeça na nuca de Gabriel.

O sinal indicando o fim do intervalo toca.

Ao abrir os olhos, Hugo percebe que a visão de onde estava não é mais a mesma.

Diante dele não há mais Gabriel, não há sofá velho, aparelho antigo e uniformes amarrotados jogados no canto da sala de rádio.

Ele não está mais abraçando ninguém.

― Onde estou? ― Ele se pergunta.

Palavras tentam sair de sua boca, porém sua voz está fraca. Hugo sente a garganta e depois todo o seu corpo doer. Um grito decorrente dessa dor é o primeiro som audível que ele consegue proferir.

Ao seu redor, nada no ambiente é familiar. É um espaço grande, semelhante a um imenso galpão, porém mal iluminado. Não consegue ver até onde vai o teto. As paredes não são pintadas e apresentam focos de mofo e infiltração. Tem a sensação de estar cercado por concreto em um lugar desgastado pela ação do tempo.

Mesmo imenso, o espaço não apresenta janelas aparentes e quase nenhum sinal de circulação de ar e luz natural. 

Está em um andar baixo, pois os únicos pontos de acesso para entrar e sair desembocam em velhas e enferrujadas escadas que conectam outros corredores acima de onde se encontra.

Hugo tenta se mover, porém sente uma segunda dor, maior do que a primeira. Um aparelho ao seu lado começa a apitar e o som penetra em seus ouvidos como se fossem agulhas atingindo seu crânio e cérebro.

― Pai, ele acordou! Por favor, não grite! Não queremos machucá-lo.

Hugo ouve a voz de alguém que se aproxima. Ela soa diferente.

― Henrico, por favor, ministre uma dose extra de analgésicos no rapaz. O choque ao acordar depois de tanto tempo é capaz de deixar ele mais agitado. Quanto mais reagir, mais dor ele sentirá.

Hugo percebe, em sua lateral esquerda, alguém apoiado em uma bengala se aproximar dos aparelhos.

Com uma aparência além da meia idade e fisionomia cansada e com rugas do tempo, veste um jaleco amarelado, chinelos e um conjunto de calça e blusa, lembrando muito o pijama de um idoso.

O homem sorri e encara Hugo como se estivesse vendo algo raro.

― Boa tarde, meu jovem, eu sei que pode ser assustador acordar amarrado em um lugar desconhecido, mas eu reforço que isso é para o seu próprio bem. Você não vai querer sentir a dor de trinta pontos abrindo e uma segunda hemorragia.
― Onde estou? Quem é você?
― O meu nome é Eric Lopes e, com a ajuda do meu filho Henrico, conseguimos te socorrer. Devo admitir, meu jovem, vê-lo acordar alegrou o meu dia de uma forma que não sentia há anos.
― O que houve comigo?
― É uma resposta que apenas você pode nos dizer. Não é sempre que um jovem com o corpo todo machucado e sangrando decide cair quase morto na entrada do meu laboratório, aqui no Vale das Ruínas.
― Vale? Ai, que dor!
― Henrico, ainda não está pronto?
― Desculpe, pai, precisei buscar mais material de desinfecção no estoque lá em cima.

Passos pesados se aproximam deles, a voz diferente, e que Hugo percebe levemente modulada, preenche novamente o ambiente.

Quando Henrico aproxima-se da luz, Hugo se assusta.

Estar diante dessa figura carregando uma bandeja com utensílios médicos faz ele ter sua mente despertada por flashs de memória. A voz modulada, a sensação de ser tocado e segurado por mãos pesadas e geladas, lembrança precedendo lembrança, até os momentos que o levaram até ali, tudo o que aconteceu.

À sua frente está parado um robô que aparenta ter uma altura semelhante a dele. Metade do rosto é parecido com o de um jovem adolescente, porém a outra metade lhe assusta morbidamente, como se fosse lapidada a face de uma caveira de metal.

― Isso é um robô de verdade?
― Não! Rico não é um robô, é meu filho. Seu nome é Henrico Lopes e, falando mais sério ainda, você deve a sua vida a ele. Foi Henrico quem percebeu a presença do seu corpo caído no barro acumulado da chuva, próximo à entrada, e te resgatou trazendo-lhe seguro sob este teto.

Hugo apenas gagueja um baixo obrigado e engole dolorosamente a saliva. Observa espantado e pela primeira vez na vida, esse ser que é máquina e humano ao mesmo tempo. 
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