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Fatalismo - Livro Um - A Era Dos Lobos

Capítulo 06

Capítulo 06

Jan 31, 2023

A fumaça quente sobe e é dissipada rapidamente ao misturar-se com o sopro de Hugo, que segura uma grande e danificada tigela contendo o que parece ser uma mistura de mingau.

― Quando eu vou poder comer alguma comida sólida, pelo menos?
― A comida que te damos tem lhe feito mal?

Henrico está sentado ao lado da cama velha onde Hugo está recostado, em posição de repouso. O quarto em que Hugo tem passado os dias se recuperando lembra um dormitório, repleto de colchões velhos acumulados e um cheiro de ácaro bem presente em quase todos os lençóis, cama e tecidos que tem usado para se vestir. Ele acredita que aquele cômodo não fora usado até sua chegada. É nítida a tentativa de arrumação feita às pressas para que ficasse ali desde que passou a ter condições de sair da maca.

― De acordo com a minha interpretação dos seus níveis metabólicos, essa refeição tem contribuído positivamente para a sua melhora.
― Se ela ao menos fosse mais bonita, talvez melhorasse o meu humor.

Henrico permanece quieto por tempo suficiente para que Hugo percebesse que o que acabara de dizer fora indelicado. Com um gesto brusco para suas condições, ele toma todo o restante da tigela como se bebesse água. 

― Ahh! Desce quente pela garganta. Cara, me desculpe, eu não tive a intenção de dizer da maneira como soou agora pouco.
― Eu sei que não, Hugo, estranhamento é uma reação previsível quando você está diante de algo além do que sua vida costuma lidar.
― Agora você puxou a minha orelha. Na Colmeia a gente também lida com muitas situações que não são bacanas. ― Hugo, você agora está no Vale das Ruínas. Tratando-se de um jovem nascido no Norte, você nasceu com um privilégio de poder escolher o que comer, isso é bastante diferente da vida de quem nasce aqui.
― Eu achava que só viviam aqui presos e exilados.
― Talvez fosse assim no início, mas, mesmo na adversidade, há pessoas que não desistem de continuar vivendo. É normal que elas se esforcem para levar uma vida o mais próximo possível das suas experiências do passado, por isso uma imensa comunidade conseguiu surgir.
― Nascem crianças aqui?
― Sim, muitas delas morreram sem chegar à adolescência ou conhecer o mundo além desses muros e cercas. Essa comida simples é algo que custa caro por aqui e é um ótimo exemplo do que o seu corpo realmente precisa, comparado ao que o seu psicológico projeta como desejo. Vocês do Norte colocam um preço no ato de comer, pegam alguns dos mesmos ingredientes que usei para fazer esse mingau e “enfeitam-no” antes de se alimentarem. É a mesma comida, apenas custa mais caro e não chega a todos que precisam. A humanidade nunca soube lidar com comida, Hugo.
― É uma perspectiva que nem todos viveram para saber, Henrico. Você também come?
― Eu nunca precisei. Henrico levanta seu corpo pesado e que, sem esforço, produz um som mecanizado na cadeira em que sentava ao lado de Hugo para recolher a bandeja e louça dele.
― Obrigado. Parece que o doutor Eric não é o único estudioso por aqui.
― Sei falar somente de assuntos que meu pai instalou em meu sistema operacional.
― O doutor é um homem sábio, só espero que ele seja sábio o suficiente para me dar alta logo. Enquanto Hugo se ajeita na cama, Henrico sobe os degraus de um dos beliches abandonados no quarto, para alcançar uma pequena fresta de janela superior, com um pedaço de vidro rachado, e então observar o ambiente do lado de fora. Desse espaço, uma fraca e pequena faixa de luz natural adentra o quarto onde estão.
― O que está acontecendo aí fora?
― A rotina de sempre, pessoas vagando, infratores entrando em crise e muita sujeira, Hugo.
― É triste e injusto o que acontece com essas pessoas.
― Hugo, se a justiça anda junto da verdade, por que então há injustiça na verdade que essas pessoas vivem?
― Eu não sei, essa é uma dúvida que talvez nem seu pai saiba responder, Rico.

Afastando-se do pequeno espaço de vidro, Henrico cobre a única fração de luz e conexão dali com o ambiente externo.

― Henrico, quando você acha que estarei melhor para partir?
― Melhor para se locomover? Logo, mas você não irá voltar.
― Que merda é essa que você está falando? Isso é uma ameaça, um sequestro que eu não sei?
― Hugo, para a Alcateia ter jogado você aqui no Vale das Ruínas, significa que eles têm você como alguém morto, esquecido. Não tem como voltar e recuperar sua vida.
― Do que você está falando? Eu tenho que dar um jeito de voltar, a minha família precisa saber que eu estou bem.
― Assim como o meu pai, você já foi dado como morto para a Alcateia. Você foi exilado para ser mais um naquilo que vocês do norte chamam de “mar de infratores”.
― Você está tentando me convencer de que eu devo ficar aqui até morrer envenenado sem acesso a cuidados? Hugo se move na cama de forma bruta, como se quisesse sair do local no mesmo instante, porém hesita. Henrico, ao se aproximar, oferece o braço como apoio.
― Fazer movimentos bruscos podem doer com mais facilidade e comprometer os pontos, se apoie em mim, Hugo. Mesmo sentindo a temperatura gelada do metal, ele segura firme no braço mecânico e levanta devagar da cama. Com o outro braço livre, Henrico entrega para Hugo uma larga bata para vestir-se e cobrir as cicatrizes expostas em seu peito nu.
― Você não vai ficar aqui até morrer, Hugo, apenas deve ficar tempo suficiente para que meu pai consiga dar início a algo maior que planejamos.
― Algo maior?
― Já que você sente medo de estar aqui e saudades de onde vive, é melhor irmos até o meu pai e te explicará o que quer saber. A propósito, você não vai morrer envenenado, porque estamos descobrindo juntos, meu pai e eu, enquanto você está aqui conosco. De alguma forma, você tem a cura dentro de si, Hugo.

Enquanto os dois deixam o quarto de repouso que Hugo ocupa há dias, não houve mais palavras ditas entre ambos. Hugo apenas sente o coração bater aceleradamente. Suas batidas entram em um ritmo, acompanhadas do som das pisadas fortes de Henrico pelo caminho. 
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