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Fatalismo - Livro Um - A Era Dos Lobos

Capítulo 11 - Parte 01

Capítulo 11 - Parte 01

Mar 02, 2023

Gemidos ecoam dos becos dentro da favela. Passos são dados evitando as poças de chuva tóxica formadas ao longo do caminho.

― Eu lembro, assim que cheguei aqui para me refugiar, de que não havia tantas barracas decrépitas enchendo esse campo de visão. Já não vejo mais a linha do horizonte.

O som de um planador cresce, aproximando-se e se misturando ao som dos gemidos de dor e choro.

― Merda! Outra ronda não programada? Ao voltar para a base terei de verificar por que Rico não tem conseguido rastrear toda essa escala de rondas da Alcateia.

O barulho continua a ressoar de um ponto isolado vindo do céu. Eric, que havia se escondido entre uma parede com manchas de sangue e uma pilha grande de lixo, sai das sombras e tenta obter um ângulo em que sua visão alcance a origem do som.

― O planador parou, não é uma simples ronda. Pelos gritos que vem da mesma direção, devem estar deixando por aqui mais uma leva de infratores. Tenho que acelerar esse mapeamento antes que minha localização fique comprometida.

Ao longo do caminho, em cada corredor estreito, no meio do aglomerado de lixo, de barracas levantadas e paredes fuziladas por onde passava, Eric vê o reflexo de tudo que repudia na realidade atual da humanidade. Pessoas dividindo espaço com insetos de esgoto, cadáveres abandonados e muito lixo. Um odor que já se naturalizara por todo o mar de infratores arde em suas narinas. Eric não consegue distinguir qual é o pior cheiro nesse caos.

No caminho das pessoas que ainda estão vivas e foram deixadas para enlouquecer nos seus últimos anos, ou meses, de vida até morrer, pode-se notar pilhas de corpos, enquanto outras pessoas brigam por restos de comida no lixão acumulado dos despejos vindos de outras regiões da nação.

― Eu já devia ter me acostumado a isso, mas a cada novo mapeamento que faço se torna mais assustador. A população daqui continua aumentando rapidamente.

Eric andou o suficiente pelo Vale das Ruínas a ponto de o planador da Alcateia parecer apenas uma ave no céu distante, antes de assustá-lo. O clima ameno do dia, sem risco de chuva tóxica, facilita o trabalho de mapeamento. Andar por essas ruelas e becos estreitos já é um desafio por si só.

Não há paisagem bonita, apenas um emaranhado de pequenas edificações, cabanas mal-acabadas e levantadas com os mais variados materiais encontrados no lixo, que mostram apenas que há um padrão no Vale das Ruínas: o da sobrevivência. Nesse intrincado labirinto mal iluminado, onde é possível sentir a concentração de poluentes ao redor, Eric entende que, cada vez mais, esse território cresce por conta própria, sem planejamento. Apenas surge com a vontade dos que ainda vivem por lá e não enlouqueceram totalmente com a intoxicação do ar.

Próximo de terminar o serviço, percebe um som familiar que destoa dos gemidos de dor usuais. Buscando a origem do som, percebe que vem de um buraco que em algum momento passado deve ter sido de uma janela. Ele reconhece o som. As palavras de ordem da nação soam baixo no meio da mazela.

― Quem ainda poderia ouvir isso aqui, nesse lugar? ― Eric se questiona.

Após remover alguns lixos e madeiras próximos à parede, avista um buraco grande o suficiente para uma pessoa passar ainda que apertada. Não há muito o que olhar ao redor daquele espaço sujo e mal iluminado, que tenta imitar uma casa, mas é fácil achar de onde está vindo a transmissão: de um aparelho de rádio velho e acabado, muito parecido com o que tem e utiliza na base.

Algo de diferente nessa transmissão chama a atenção dele. Trata-se de uma transmissão extraordinária.

― A recomendação é para que todos os cidadãos que trabalham na Cidade Gestora e Tecnológica, não se dirijam para essa área até que um alerta de segurança e liberação seja emitido. Repito, até que terminemos de averiguar todos os motivos por trás da explosão e possível ataque, todas as estações que levam à Cidade Gestora estarão fechadas por tempo indeterminado.
― Um ataque? É raro demais ouvir isso depois de viver tanto tempo nessa fortaleza.

No desejo de ouvir melhor a transmissão, ele entra no local e se dirige ao aparelho, aumentando o volume.

― Durante uma conferência com a mídia licenciada, prevista para às 15 horas da tarde de ontem, no coliseu próximo ao centro de convenções e importações, localizado na Cidade Gestora e Tecnológica, foi orquestrado um possível ataque com bombas que explodiram e provocaram mortes e danificaram as instalações. A conferência contaria com a presença do IV Líder Alfa, que discursaria, e outros representantes da Alcateia, mas ainda não há nenhuma informação sobre a presença deles no local no momento da explosão. Voltaremos com mais informações em breve.

Um misto de sentimentos mexeu com Eric, sua boca expressa um leve sorriso ao mesmo tempo em que as pupilas dilatadas e mãos trêmulas denotam ansiedade pelo que acabara de escutar.

De repente, o rádio começa a chiar de forma que o sinal se perde e o som some.

― Merda! Logo agora que preciso de mais informações.

Reclamando em voz alta enquanto aperta os botões, nervoso, Eric tenta sintonizar novamente até que ouve passos se arrastando de um canto escuro do cômodo.

― Assim você só irá terminar de quebrá-lo, foi muito difícil conseguir um desses por aqui.

Ele se vira assustado e, devagar, ao mesmo tempo em que se repreende de ter sido tão negligente em distrair-se por ali. Diante dele, está parada uma mulher extremamente pálida, de cabelos curtos, porém cheio de falhas, algumas feridas e marcas. Os olhos avermelhados já indicam sinal forte de envenenamento.

Essa mulher, com vestes sujas e rasgadas, segura um bebê com um de seus braços, enquanto o outro braço dá sinais de perda de controle, com muitos tremores. Dá passos em direção a Eric, que retribui a ação recuando.

― Me desculpe, eu entrei aqui sem ser convidado, mas não imaginei que de fato alguém vivia aqui dentro.

― Você chama isso de viver? É uma piada. Por favor, não tenha medo.

Mesmo fraca, colocou a criança dentro de uma caixa de papelão cheia de panos, improvisada como berço. Esticou o braço de maior controle motor como sinal para pedir o rádio que está nas mãos de Eric.

― Por favor, deixe que eu mexo nele. Já estou habituada a isso.

Eric abaixou a guarda e entrega o aparelho enquanto se aproxima da mulher.

― Você é bastante educada para alguém que sobrevive aqui no Vale das Ruínas.
― Já você, parece muito bem para um morador daqui.
― Ela é esperta. ― Pensou Eric. Uma análise rápida e precisa, só de observar sua aparência.
― Eu vim exilado, há poucos dias, ainda estou aprendendo a sobreviver por aqui. ― Respondeu ele, rapidamente. ― E você? Como veio parar aqui com um bebê?
― Eu fui pega pela Alcateia durante o último trimestre da gestação. Bando de homens podres! Aparentemente, para eles, um bebê fruto de uma mulher intoxicada não é digno de viver na sociedade deles. Desde que vim parar aqui, consegui me isolar nesse espaço, mas estou muito fraca, sequer tenho mais leite para dar ao meu bebê.

Com alguns movimentos insistentes, o rádio volta a funcionar, mas a informação transmitida continua a mesma de quando Eric havia chegado.

― Eles não vão falar mais nada. Cães malditos!
― Não querem alimentar na gente a esperança de que podem ser retaliados.
― O senhor é sábio, me lembra o meu marido.
― Ele veio exilado contigo?
― Não, foi executado por traição. Descobriram que ele estava ajudando a aliança rebelde da Madre.

Eric pareceu espantado e deslumbrado. Como ele nunca ouvira falar dessa aliança? Como uma mulher tão eloquente estava escondida ali, em meio a um mar de infratores?

― Existe uma aliança rebelde?
― Atualmente, tem muito mais coisa acontecendo do que esse rádio consegue transmitir. O meu marido era um infiltrado na Alcateia. Ele estava fornecendo informações para a aliança, mas descobriram e o executaram. Como forma de me calar, me jogaram aqui nesse fim de mundo. Mesmo sem os níveis de envenenamento necessários para me considerarem uma infratora. Agora já é tarde demais para mim.
― De onde surgiu essa aliança?

Um barulho de algo batendo e se quebrando soou alto, vindo do lado de fora. Gritos de uma possível briga acompanham esse som. O barulho não incomoda a Eric a ponto de impedi-lo de ouvir as palavras da mulher, porém foi incômodo o suficiente para acordar o frágil bebê, que dá início a um choro assustado.

A mãe entra em choque com o susto, desliga o rádio rapidamente e toma o bebê em seus braços para fazê-lo parar de chorar.

― Por favor, durma filho, eles não podem saber que estamos aqui.

Eric notou uma súbita mudança de humor na voz e expressão dela, que está nervosa, com medo de que o som do choro saia para além das paredes que os cercam.

― Eles quem?
―Shhhh! Por favor, senhor, faça silêncio. Eu não quero correr o risco de infratores virem até aqui. Você tem que ir embora agora.

O som dos gritos do lado de fora aumenta, enquanto a mulher começa a ficar ofegante e alerta com o bebê no colo. Eric se aproxima dela, mas reage recuando.

― Vá embora agora!

Começa a suar frio e balbuciar palavras desconexas. É então que o doutor chega à conclusão de que a intoxicação já se encontra em níveis elevados demais no organismo dela, mais do que seu físico aparenta. O pânico, tremor, momentos rompantes de raiva. Ele tomou consciência de que aquele é o momento de se retirar.

Pelo som externo, Eric entende que algum infrator entrou em crise e possivelmente está atacando as pessoas ao redor. Buscando a direção de onde vêm os sons de selvageria, planeja o acesso mais apropriado para saída. Em outro cômodo sem iluminação, na parede, há um buraco superior não muito abaixo do teto, porém suas pernas, já muito debilitadas, não possuem mais força e nem elasticidade para escapar pelo alto. Ele encontra-se encurralado.

O choro alto da criança cessou, e a silhueta da mulher aparece próxima à parede.

― Eu disse para você deixar a minha casa, seu lobo maldito!

Eric sabe que está em perigo. A mulher já não age como antes, a expressão de preocupação agora dá lugar a uma fisionomia sombria. Sua boca espuma, os olhos estão totalmente avermelhados. De fato, estava certa em suas palavras, não havia mais retorno para ela.

Avançando em direção à Eric, a mulher urra e grita. Buscando se defender, o doutor joga pedaços de madeira velha e ferros enferrujados em sua direção e dispara rumo ao aposento anterior onde esteve inicialmente. 

Novamente ouve um choro e respira aliviado por saber que nada de mal aconteceu à criança, porém certamente a vida do bebê ainda corre risco. Ele toma a criança em seus braços, mas a mulher é mais rápida, volta com um pedaço de vidro em mãos e o crava nas costas de Eric, na altura da escápula. Ele grita de dor, mas reúne o máximo de força em um de seus braços, reage com uma cotovelada forte e certeira na cara da mulher, que escorrega e cai no chão. Novamente joga o máximo de lixo e entulho sobre ela e sai pelo acesso que entrou, cambaleando e sangrando com o bebê em seu braço.

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