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Fatalismo - Livro Um - A Era Dos Lobos

Capítulo 12

Capítulo 12

Mar 07, 2023

― Ser uma pessoa boa não vai garantir que a vida seja boa com você. Muitas pessoas fazem o bem e possuem uma vida pior que a de vários que fazem o mal. Fazer o bem não vai lhe dar a certeza de que receberá o mesmo em troca. Às vezes simplesmente morre sem saber como é a bondade vinda de outros.
― Então você acha que, mesmo que nos sacrifiquemos nesse plano, ainda há chances de ter sido em vão?
― Sempre haverá chances de, algum tempo depois, dar tudo errado e nada do que planejamos como consequência positiva acontecer.

Virado de costas para Hugo enquanto responde, Henrico se desfaz dos últimos remendos e pedaços de curativos do jovem.

― Eu preciso do Dr. para decidir como agir com a nossa ideia.

Subitamente, sentem um tremor a percorrer parte da mobília, paredes e instalações.

― O que está acontecendo?
― Bombas.
― Quem soltaria bombas aqui?
― Os lobos fazem isso, de tempos em tempos.
― Eu nunca soube disso, na verdade nunca senti tremores como esses pela área onde eu morava.
― Esse é um dos motivos que torna o Vale das Ruínas o mais distante de todos. Assim, o restante do povo continua suas vidas, sem prestar atenção ao que a Alcateia faz com a outra parcela da população.
― Isso é algum tipo de treino deles?
― Não. Isso é o que eles chamam de “limpar as ruas”. Eles matam a população daqui, Hugo, basta que ela comece a crescer para que eles cheguem aqui e matem. Nos arquivos da Alcateia isso fica protocolado como etapa de higienização populacional, mas eles são cruéis. Eu e o Dr. Monitoramos algumas ações deles, de tempos em tempos, esses lobos trazem dezenas de infratores exilados das outras áreas da nação para cá e, de vez em quando, enchem os planadores com alguns outros e tiram daqui, para onde os levam eu não sei. Existem áreas mais distantes do Vale das Ruínas que nem mesmo alguns soldados bem treinados ousam circular sem o devido reforço, tamanha é a quantidade de infratores que são deixados para o esquecimento aqui, até morrerem. Eles mantêm o controle populacional e das pessoas envenenadas dessa maneira. Exilando alguns, desaparecendo com outros e executando, se possível.
― Isso não é limpeza porra nenhuma! Estão cometendo assassinatos em massa.
― O barulho está mais forte do que de costume.

Hugo se levanta da cama e dirige-se até onde consegue ouvir melhor. Apesar de ser uma antiga instalação da Alcateia, os anos naquela área negligenciada transformaram a anatomia do local de tal maneira que é possível, a partir de frestas entre tapumes e janelas quebradas de alguns cômodos, ver e ouvir o que ocorre do lado externo. 

Estrondo, sons de tiro e algumas labaredas sinalizam onde ocorre o ataque naquele mar de favelas e becos. Como nunca presenciara ou ouvira falar sobre o que acontece nesse momento? Hugo se questiona enquanto se choca com o que vê. Onde está o professor, que ainda não havia retornado?

― Henrico, será que o Doutor está no meio dessa confusão?

Hugo olha incrédulo em direção ao fogo que queima. Já é noite, mas é possível ver a iluminação das chamas clareando seu rosto. Ao lado dele, Henrico não esboça nenhuma reação.

A noite fora longa. Após tanta destruição, Hugo e Henrico apenas ouviram uma forte e demorada chuva que preencheu qualquer espaço em suas mentes. Ocuparam toda a ansiedade e medo decorrente. Naquela noite não houve nenhum sinal de Eric, e no dia seguinte também.

Durante esse tempo, Hugo permaneceu ansioso dentro laboratório, enquanto Henrico sai para procurar o Dr. Eric ou ao menos buscar pistas do que possa ter acontecido.

Dentro das instalações, o tempo parece desacelerar mais ainda na cabeça de Hugo. Especialmente por não ter muito o que fazer a não ser mexer com sucata, ler relatórios que não entende e treinar sua condição física para melhorar mais rápido e não deixar a ansiedade de ter como única companhia na vida presente algo que em sua cabeça ainda é um robô, tomar conta de sua mente.

Para ambos, uma semana após os acontecimentos, o luto já estava internalizado, independentemente do que possa ter acontecido ao Dr., e tomaram ciência de que não podem mais perder tempo nas condições em que sobrevivem ali, no Vale das Ruínas. Hugo se convence de que a Alcateia precisa ser atingida. Ao pensar no que tem em mãos para poder agir, Hugo acredita que só pode contar com o laboratório, Henrico e, mesmo relutante, com Gabriel.

A ideia de colocar em prática um plano com tantas chances de falha o deixa ofegante e ansioso. O medo de se expor novamente ao perigo dos lobos, de perder todo o trabalho do Dr. Eric e, mais ainda, de arriscar a vida de Gabriel, que ele acredita estar seguro, tiram Hugo de uma zona de conforto mental e emocional.

Ele observa todas as pilhas de documentos de Dr. Eric e se vê impelido a não deixar todo esse estudo e trabalho se extinguirem.

― Porquê você está ansioso, Hugo?
― Não é para estar? Seu pai está desaparecido, Henrico, eu não sei o que estou fazendo aqui, nem sei como continuar tudo o que vocês alcançaram.
― Não é para você continuar o nosso trabalho sozinho.
― Só tem nós dois aqui!
―Nós podemos pedir ajuda.
― A quem? Ao Gabriel?
― A ele e a quem mais quiser se juntar a nós.
― Porra, Henrico! Nós não temos ninguém para lutar ao nosso lado!
― Você soa como se essa luta fosse somente sua. Como se fosse o líder, herói escolhido e destinado a lutar uma guerra contra as forças do mal.
― Até onde eu sei, eu sou a única pessoa que o sangue possui o antídoto para combater o MG.N.8.
― Isso não significa que você será o único, Hugo, é apenas o primeiro.

A fala de Henrico penetra os ouvidos de Hugo como uma agulha longa e fina. Dói ouvir essas palavras, mas ele cai em consciência e percebe que não pode deixar seu ego tomar o controle da situação.

― Hugo, você pode estar se sentindo só, achando que é o único que restou para lutar contra a Alcateia, mas essa luta nunca foi exclusiva do meu pai, não é somente sua e não é por você, é por toda a população que sofre com o condicionamento e dependência provocado pela Alcateia, o Bluebird e todo o cataclismo ambiental. Mais pessoas se unirão a nós. Você não tem que ser o herói, apenas tem que ajudar as pessoas a perceber que elas podem salvar a si próprias. Uma sociedade que não espera por um líder fazer por elas, mas contagiam umas às outras com suas ações, é uma sociedade que tem em mãos mais chances de guiar o seu destino.

Hugo deita no chão e, durante muito tempo, fica em silêncio olhando para o teto, pensando. Henrico também não diz mais nada, apenas aguarda o tempo que Hugo precisa para processar a conversa e os acontecimentos.

― Obrigado, Henrico. ― Diz Hugo enquanto finalmente se levanta do chão, ainda encarando o teto mal iluminado, e depois volta-se para o amigo.
― Se vamos prosseguir com isso, como conseguiremos chegar até o norte? Eu não posso sair dessa região tão facilmente, eles vão me encontrar rápido.
― Logo após estabilizarmos o seu quadro de saúde, o Dr. e eu hackeamos o banco de registro civil no sistema central da Alcateia para verificar o seu status, Hugo. Para eles, você já foi dado como morto, nem se deram ao trabalho de colocá-lo na contabilidade de pessoas transferidas e isoladas aqui.
― Isso é ruim para nós. Um fantasma aparecer pelas ruas de Nova São Paulo do Sul não é algo discreto.
― Pelo contrário, é algo positivo.
― O que isso quer dizer?
― Significa que eles não estarão mais à sua procura.
― Isso é ruim também, eu posso ser preso, caso queiram verificar a minha identidade.
― Se você for como outra pessoa, não será. Só vai precisar de uma falsa identidade, que eu posso cadastrar no banco de registros.
― Nós podemos fazer isso?
― Toda a pesquisa do meu pai está aqui para nos ajudar.

Hugo se dirige às pilhas de anotações enquanto Henrico vasculha e faz o backup de todos os discos possíveis de seu pai.

Durante o restante do tempo, ficaram dentro da sala com a mesma intensidade com que anteriormente o Dr. Eric vivia enfurnado, trabalhando. A máquina velha de café foi ligada e Hugo brindou em homenagem às pessoas por trás do desenvolvimento de todos aqueles estudos e planos.

― Obrigado, Dr. Eric.
 
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