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Fatalismo - Livro Um - A Era Dos Lobos

Capítulo 14

Capítulo 14

Mar 14, 2023

Gotas de suor escorrem pela lateral da face. Uma respiração ofegante preenche o ambiente sob um penumbre cômodo, com poucas mobílias, apenas o básico para que uma pessoa possa sentar e deitar. Há terra e poeira onde fica nítida a baixa frequência de uso do espaço.

Acompanhando o som da respiração entrecortada, também é possível ouvir o barulho de água em uma bacia. ― Splash! ― Faz o som da água que cai enquanto o pano é torcido, molhado novamente, e então colocado na testa de Gabriel, que permanece deitado na cama, semiconsciente.

― Você teve sorte por eu estar por perto.

A pessoa sentada ao lado de Gabriel segura sua mão.

― O tiro pegou de raspão na sua barriga.
― Onde eu estou? O que houve?
― Aparentemente aconteceram algumas explosões, mas descanse, eu te trouxe com segurança à periferia da Colmeia.
― Eu preciso voltar, tenho que encontrar alguém. ― Murmurou Gabriel enquanto tenta se mover na cama.
― Fique calmo, cara, você perdeu bastante sangue e ainda está desidratado.

Gabriel se sentiu devidamente desperto após prestar atenção na voz que se dirigia a ele. Moveu-se bruscamente, procurando onde acender a luz, mas sente uma pontada de dor na área em que fora atingido.

― Já disse para se acalmar, não tem porque levantar agora, nesse estado.

Caminhando na direção oposta à da cama enquanto fala, ele acende a luz e se vira para Gabriel.

― Ei, sou eu.

Gabriel não consegue disfarçar o choque diante de quem está olhando.

― Hugo? Você está... você está vivo?

Subitamente, lágrimas começam a descer de seus olhos, Gabriel cobre a boca, sufocando um grito decorrente de tudo que sente. Ele não está louco, Hugo está realmente vivo, ali, bem diante dele.

Hugo, que está de pé, expressando uma aparência forte, começa a chorar discretamente. Caminha em sua direção, ajoelha diante da cama e deita o rosto sobre as mãos de seu namorado. Gabriel acaricia a face de Hugo e lhe consola com um cafuné. Ambos ficam ali por longos minutos, quietos, um ao lado do outro.

― Hugo, o que aconteceu? Eu só fui informado que você havia sido detectado como infrator e não aceitou ser detido. Disseram-me que você estava foragido. Eu pensei que tinha perdido você.

Sentando ao lado de Gabriel, Hugo acaricia delicadamente seu rosto machucado e apoia em seu peito a cabeça do namorado.

― Eu tentei fugir, mas as coisas não aconteceram como lhe contaram. Eles não foram atrás de mim porque eu estava com altos níveis de veneno no corpo, pelo contrário, eu estava bem. Acho que foi algo relacionado aos experimentos que fiz no laboratório de rádio da academia.
― Eu me recordo que, durante o período dos acontecimentos, você tomava o remédio diariamente.
― Gabriel, por poucos segundos eu juro que escutei uma voz do outro lado da transmissão do rádio. Como se eu conseguisse me contatar com mais alguém.
― Eu sei que a gente vive com esse medo e sensação de sermos vigiados o tempo todo, mas acho difícil que tenham perseguido você porque rastrearam sua conexão via rádio.
― Depois de tudo que passei, cada vez mais acredito em coisas aparentemente impossíveis. Não consegui entender muito bem a transmissão, mas sei que a voz do outro lado não era daqui. A pessoa falava um idioma que nunca ouvi antes.
― Você sofreu durante esse tempo?
― Foram os piores dias da minha vida.

Gabriel levanta a cabeça do peito de Hugo. Olha-o nos olhos e dá um doce beijo em sua bochecha.

― Agora que finalmente nos encontramos, tenho certeza de que não quero te perder nunca mais. Todos os dias eu senti a sua falta. Ficar sem você aqui e não ter notícia alguma sobre o que aconteceu acabavam com a minha sanidade. Como você conseguiu fugir da Alcateia?
― A verdade é que eu não fugi. Eu tentei, mas não consegui. Foi horrível, Gabriel. Me prenderam e agrediram, depois que cansaram de me torturar, me abandonaram sem máscara ou filtro de ar, nada, naquele mar de infratores. As pessoas são despejadas lá para esperar a chegada da morte.

Os lábios de Hugo tremem enquanto desabafa. Gabriel percebe que ele se segura para não chorar.

― Enquanto estava ferido no chão, um dos lobos disse que esse era o único tratamento que rebeldes como eu merecem.
― Falar isso para você parece ter mais relação com a conexão do rádio que com um caso de envenenamento. Devem ter pensado que você era um desses rebeldes tentando se comunicar com alguém de fora da nação, talvez um espião.
― Sim. O Vale das Ruínas é horrível, Gabriel, nenhuma pessoa merece viver naquelas condições. Eu não sabia que vivíamos com tamanha desigualdade e injustiça, iria morrer se não tivesse conhecido o Dr. Eric e o Henrico. Eles me ajudaram desde então, fazendo com que hoje fosse possível eu ter encontrado você.

Hugo levanta e caminha, nervoso, em direção à janela do quarto.

― Sabe, Gabriel, a primeira vez que saí do Vale das Ruínas, passando pela mesma estação, e de dentro do trem você me viu, eu tremi e congelei por dentro. Tudo o que quis naquele momento era não ser descoberto por ninguém, mas ao mesmo tempo me senti imensamente feliz por te rever e descobrir que estava bem.

Ele cruza os braços e para diante da janela enquanto olha para fora. Uma gélida e tóxica brisa noturna deixa marcas no vidro. Suas mãos tremem e apertam o máximo possível a própria pele.

― Graças a Henrico eu consegui uma identidade falsa e me estabeleci aqui nesse apartamento. Aparentemente essa área da Colmeia não é tão vigiada e também é longe dos lugares que costumava frequentar. Não posso ser descoberto por ninguém que me conheceu de verdade. Como senti falta de olhar para esse céu corrosivo. Lá não é possível apenas parar, desacelerar e observar algo. Em todo o momento sua vida está em risco e você deve estar pronto para fugir.
― Isso virou passado, Hugo, o que importa agora é que você está de volta. Tudo voltará ao normal.
― Gabriel, aquele incidente decretou que a minha vida nunca mais será como antes.

Ele responde, com a voz trêmula e embolada, denunciando o nervosismo.

― Do que você está falando, Hugo? Você acabou de me dizer que agora você tem uma nova identidade. Eu entendo que, por enquanto, você não pode se revelar para sua família, mas olhe ao redor, você está sob um teto e pode recomeçar nessa nova vida. Eu quero estar ao seu lado e te ajudar. Nós podemos dar um jeito nisso e vivermos juntos.
― Não fale merda, Gabriel! Você acabou de trocar algumas palavras comigo e presume que entende o que aconteceu, o que está acontecendo? Já tem a solução para os nossos problemas?

Após explodir de raiva, Hugo puxa a cortina da janela com força para que não sejam vistos pelo lado de fora e se afasta.

― De que adianta desejarmos viver juntos, se nos primeiros dias poderemos ser flagrados e presos sob a lei constituinte de perpetuação? Além disso, aos olhos do mundo, não será mais Hugo e Gabriel. Quer saber porquê? Eu morri, Gabriel! Para todos que me conheciam, eu morri! Fui tirado de você, da minha mãe, da minha irmã! Você acha que minha preocupação é viver como parte de um casal?

Hugo cerra os punhos com força e encara Gabriel, sem piscar, que ainda se encontra repousando na cama.

― Me tiraram de mim, Gabriel, de mim! Para qualquer pessoa que me conheceu antes, eu não sou mais o Hugo! 

Bastou essas palavras saírem de sua boca e tomarem uma forma mais definida na compreensão que Hugo tem sobre a própria vida, para fazê-lo ele desabar no choro. De maneira frágil, encosta no armário que fica no canto do quarto e desliza até o chão, desabando em lágrimas e soluços.

Naquele instante, Gabriel percebe que o Hugo de suas memórias não existe mais. Diante dele está alguém quebrado, ferido, com raiva e que não sabe como juntar os cacos de uma vida passada que foi despedaçada.

― Hugo, por favor.

Mesmo sentindo dor, Gabriel chama por ele e projeta o corpo para frente, como se quisesse chegar até Hugo.

― Hugo, me desculpe. Fica aqui do meu lado, por favor.
― Vá dormir, Gabriel, você está com o corpo frágil. Amanhã a gente conversa. Sentado no chão, Hugo esconde o rosto choroso entre os próprios braços. Neste momento não há mais nada que Gabriel possa fazer.

Horas depois, enquanto tenta dormir, sentiu Hugo deitando ao seu lado na cama. Por pouco tempo, mesmo dormindo, Hugo e Gabriel estavam livres dos problemas do mundo e da vida fora daquele cômodo. Enquanto dormem um ao lado do outro, voltam a ser o mesmo casal de antes.
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