- OLÁ! – dissera uma voz a gritar.
A rainha sem coroa acordou em sobressalto e viu que à sua frente estava uma mulher com cabelos prateados, como se a própria Lua tivesse doado a sua cor aos cabelos daquela criatura. Seus olhos olhavam-na muito intensamente, como um oceano. Parecia irritada, mas ao mesmo tempo transparecia um ar de quem queria rir. Uma coisa é certa, ela tinha coragem de um dragão para ali estar sem ser convidada e ainda por cima gritar.
A rainha ficou confusa. Como é que os seus dragões deixaram ela entrar assim, sem mais nem menos? Talvez ela fosse uma feiticeira daquelas que encantam para iludir e destruir sonhos. Os seus dragões foram treinados para isso. A rainha não entendia o que estava acontecendo ali.
- OLÁAAAA!!!, dissera mais uma vez aquela misteriosa criatura, com um tom de voz ainda mais alto do que o primeiro "olá". O tom de voz era de tal ordem exorbitante que as suas palavras podem ter sido escutadas em outras divisões do castelo. A rainha sem coroa estava incrédula.
A rainha suspirou profundamente e fechou os olhos. Por momentos, pensou que estava a sonhar, mas percebeu que, depois de abrir os olhos, a mulher continuava ali. Era real. A rainha conhecia-a, mas não se lembrava de onde. Fazia anos que ela não se importava com quem entrasse ou saísse do castelo. As pessoas entravam e saíam sem que ela se preocupasse em saber quem eram, o que queriam, e por vezes iam embora, sem que ela desse conta. Tudo estava indiferente e desconectado desde que ela aceitou o seu destino. Ela aprendeu que tudo o que a vida traz a vida leva. Para quê gostar demasiado de alguém, para depois cair nas amarras do apego e depois sofrer em silêncio porque ninguém quer saber das tuas lágrimas? Ela já era conhecida por rainha sem coroa, não queria ser conhecida por rainha chorona. Aprendeu a chorar sozinha, quando ainda tinha lágrimas para deitar fora, mas fazia-o longe dos olhares indiferentes. Só os seus dragões e estrelas tinham esse privilégio de estar ao seu lado quando ela ainda chorava.
Ela observou-a e mais uma vez sentiu uma misteriosa familiaridade. Talvez já tivesse conversado com ela em algum lugar no passado, mas não sabia quando nem onde. Enquanto a rainha se perdia dentro de si tentando perceber quem era aquela criatura, a mulher suspirou ruidosamente.
- Vais ficar a olhar para mim o resto da vida? Já verificaste o teu coração? – perguntou a mulher dos cabelos prateados, apontando para o peito da rainha.
- Como?! – perguntou confusa a Rainha sem coroa que, aparentava ter um olhar de enorme perplexidade perante o que se estava a passar.
- O teu coração mulher!! Já verificaste como ele está??
- Há muito tempo o deixei de ver, ele semp….
- Mas devias!!! – gritou mais uma vez. A rainha ficou boquiaberta com aquela coragem de gritar daquela maneira. Os seus dragões nada faziam. Provavelmente sabiam da presença dela ali, mas, mesmo assim, nenhum deles aparecia em sua defesa.
- É preciso ter coragem para entrar aqui sem ser convidada e ainda por cima gritar comigo dessa maneira.
- Eu faço o que eu quiser. Não tenho medo de ti nem dos teus dragões. Além disso, não pareces ser má. Não tens cara disso. Por isso, grito as vezes que me apetecer para te acordar desse sono que te tem cegado por muitos anos. - Disse com uma voz autoritária.
- E seu eu não quiser ver o estado do meu coração? Hum?
- Oh… nesse caso… vou embora, adeus, não te incomodo mais. – A mulher dos cabelos prateados virou as costas e começou a dirigir-se para a porta.
- ESPERA!- A rainha sem coroa não queria ter gritado, mas a sua voz saiu mais alta do que ela esperava. Ela suspirou mais uma vez e por fim decidiu aceder às pretensões daquela estranha mulher, invocando, assim, o seu coração.
A mulher com os cabelos cor de Lua virou-se e sorriu amavelmente, mas a rainha não reparou, porque estava surpresa com o que estava a observar.
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