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Arco-íris Cor de Rosa

BANHEIRO DA UNIÃO [parte 1]

BANHEIRO DA UNIÃO [parte 1]

Mar 07, 2024

SE minha vida fosse um filme, esse seria o momento perfeito para um flashback com as cenas mais importantes para entender o porquê de eu odiar Eleanor Cavalcanti.

Mas, como não é o caso, quero deixar registrado que eu odeio Eleanor. Muito mesmo.

Sabe aquela pessoa que você não tem motivo pra detestar, mas mesmo assim detesta? Aquele ser humano abençoado — de que abençoado não tem nada — que todo mundo gosta menos tu e aí fica parecendo que você é quem tem algum problema?

Pra mim, Eleanor é esse alguém.

Começando pelo nome, pois não tem como negar que é um nome de menina mimada.

Outra coisa que me tira do sério sobre Cavalcanti é sua obsessão em parecer uma personagem de filme.

Moramos numa cidade litorânea cujo verão dura mais da metade do ano e o inverno é só alguns dias de garoa e vento parado, mesmo assim Eleanor faz questão de andar por aí usando preto. O. Tempo. Todo.

Sempre de calça preta rasgada nos joelhos — como se ela tivesse engatinhado numa trincheira cheia de lama e arame farpado —, camisetas do mesmo tom e a maldita jaqueta de couro falso.

Pra piorar ela vive de óculos escuros, mesmo de dia e pilota uma mobilete azul barulhenta pra porra. É ridículo e mais ridículo ainda é o fato de todos os meus amigos a acharem o máximo por ser assim.

Tudo porque Eleanor é uma garota de cidade grande com gírias diferentes e que pronuncia palavras com "s" de forma demorada, dando a impressão de que tem um "ch" depois dos "tês".

Tem outros detalhes nela que me deixam fula da vida... Como o sorriso convencido, a risada fácil, os comentários sobre algo da sua antiga cidade — cinco vezes maior que a nossa, com shoppings a cada esquina, boates e essas coisas — só pra chamar atenção e assim por diante.

Ela é a única novata esse ano, então é como se existisse um letreiro neon gigante escrito "NOVIDADE" a seguindo por aí.

Todos os meninos querem beijá-la, todas as meninas querem ser como ela ou a odeiam por roubar a atenção dos garotos etcetera etcetera...

Mas esses detalhes são só a pontinha do Iceberg que é o ódio que nutro por Eleanor.

O maior motivo por eu não suportá-la é porque ela sabe sobre mim.

Não houve qualquer confissão da minha parte, ou sinais — prefiro reafirmar que sou discreta, se não vou pirar achando que o resto das pessoas também estão cientes.

Sei lá como... Ela simplesmente sabe.

Da mesma forma que um maldito cão farejador consegue sentir um pacote cheio de droga numa mala em um aeroporto enorme.

Só que no meu caso eu sou o pacote. Ou melhor, minha heterossexualidade. Quer dizer, a falta dela.

Eu escondo o fato de ser lésbica há cinco anos... Ninguém sabe. Nem Kaique, que é tipo... Meu melhor amigo desde que eu tinha meses de vida.

Então como essa garota de Amarílis posa de paraquedas do nada, me encurrala no banheiro e diz "Eu sei o que você é" igual num filme ruim sobre vampiros de pele de diamante?

Que porra de radar LGBT é esse que ela tem? E onde eu compro um?

— Velho! — grita Eleanor, me puxando de volta pro momento.

Ela afasta a cortina de plástico de uma vez e sai da banheira aos tropeços — para minha surpresa, em vez dos seus inseparáveis coturnos ela está usando all stars all black.

Dou uns passos para o lado, me encostando na borda de mármore da pia e observo Eleanor chacoalhar a porta.

— Vai tomar no cu! — fico em dúvida se ela está me xingando ou xingando a maçaneta — Faz uma hora que eu tô aqui! — ela dá um chute na porta e depois tenta a maçaneta de novo.

Eu observo a cena em silêncio e um pouco confusa.

Felizmente, a garota barulhenta não se importa de explicar — gritar seria uma definição melhor — o problema:

— A merda da porta tá quebrada! Ela não abre por dentro! — mais uma sacudida na maçaneta pra comprovar seu ponto. — Porque você não meu ouviu Ana Júlia!?

Como é?

— Você gritou comigo. — respondo. — E eu nem sabia que tinha outra pessoa aqui. Levei um baita susto, né?

Bufo e cruzo os braços, já na defensiva.

Outro ponto negativo sobre Eleanor é que ela é mal educada. A gente tá convivendo há uns dois meses e ela continua errando meu nome.

— Ai, só de ruim, me trancou de novo aqui dentro!? — rebate, jogando as mãos pra cima.

— Foi sem querer! E eu também tô presa aqui pelo visto! — a empurro pro lado sem muita delicadeza e tento abrir a porta.

Não funciona.

Eleanor solta um suspiro frustrado e fica na minha cola. Consigo sentir sua respiração nas minhas costas.

Aposto que ela está na ponta dos pés, tentando ver por cima do meu ombro.

— Não vai funcionar! Eu acabei de-

— Você faltou derrubar a porta a força. Deve tá só emperrada. Talvez com jeitinho... — seguro a maçaneta e a puxo com cuidado, depois giro.

Sem sucesso.

— Como disse. Estou presa há uma hora aqui dentro. Se tivesse "um jeitinho" — ela faz sinal de aspas com os dedos. — Não acha que eu teria descoberto!? — desdenha, enquanto apoia as costas na parede.

— Com essa cavalice toda, duvido muito. — resmungo, bem baixinho e me viro.

— O quê?

— Quê? — repito, fingindo que não falei nada.

A menina cerra os olhos pra mim, como se fosse capaz de explodir minha cabeça com o poder da mente.

Felizmente, pro meu bem, ela não consegue.

Porém isso não a impede de ficar no canto, de braços cruzados e cara emburrada. E é estranho que ela pareça tão intimidadora mesmo sendo tão baixinha — sério, dou no máximo um e cinquenta e cinco.

Com os nervos menos a flor da pele, a observo melhor. A pele negra mais escura que a minha, o cabelo cacheado, os piercings nos cantos do lábio inferior, as sobrancelhas bem desenhadas, a maquiagem forte, o batom cor de vinho...

— Porque você não ligou pra ninguém? — pergunto pra ela, quando noto que estou encarando demais.

Eleanor descruza os braços e abaixa o rosto, fugindo do meu olhar.

— Não tenho celular. — diz, enquanto brinca com os fiapos soltos da calça jeans. — Você tá com seu aí? Pode chamar ajuda?

Mastigo a parte interna da bochecha, apreensiva.

— Tô. Vou mandar mensagem pra Lud. — A expressão dela se altera um pouco, como se quisesse dizer algo, mas sua boca se fecha no instante seguinte e Eleanor se limita a acenar com a cabeça. — Ô merda. — suspiro assim que alcanço o celular em cima do balcão, perto da pia.

Meu celular morreu.

— Acabou a bateria. — mostro a tela preta do Samsung.

— Ainda bem que cê trouxe o carregador né? — fala, apressada e com sotaque carregado.

Balanço a cabeça e solto um "mais ou menos", depois pego o celular e finalmente coloco ele pra carregar. Quanto mais demorar, mais tempo vou ficar aqui.

Sorte que tem uma janelinha na parede do lado da banheira? Já pensou morrer dentro de um banheiro porque faltou oxigênio?

Isso na verdade me lembra um episódio de Horror Drama Club, nossa aquela cena foi super tensa. Nem sei como Robin conseguiu...

— Acha que demora muito? — pisco atordoada e viro o rosto para olhar Eleanor. Ela morde a unha do polegar. — Pra carregar? — seus olhos vão do celular para mim.

— Olha, demorar não demora... Mas ele tá meio coisado, então vai ser um saco pra ligar. — explico.

A menor bufa e esconde o rosto nas mãos. Eu me encosto na porta e escorrego até o chão enquanto ela volta pra dentro da banheira e puxa a cortina florida, se escondendo.

O tédio me atinge em menos de cinco minutos, então eu apoio a lateral do rosto na porta, colando a orelha na madeira pra ver se consigo ouvir algo interessante.

Só gritaria e batidas abafadas de música — eu poderia ficar rouca de tanto berrar e ninguém escutaria.

Suspiro e digo pra mim mesma que vai ficar tudo bem. A qualquer momento alguém virá ao banheiro. Vão abrir a porta e a gente vai poder sair, provavelmente nos próximos dez minutos, vinte no máximo.


EU não tenho um relógio, então estou medindo o tempo pela porcentagem de bateria do meu celular. Quando me tranquei aqui sem querer, estava em quarenta e nove.

Agora ele já está em noventa e não apareceu uma alma viva! Nem morta, diga-se de passagem.

Não é o fim do mundo, mas está quase lá porque eu tô morrendo de vontade de fazer xixi.

O universo tem um humor filha da mãe viu? Ficar trancada num banheiro e não poder usar a droga da privada porque tem uma garota chata que...

— Já dá pra ligar? — Eleanor puxa a cortina e apoia o queixo na borda da banheira, me encarando.

Reviro os olhos com tanta força que chega a doer.

— Como já disse das últimas seis vezes... Ele precisa chegar a cem por cento! — ela abre a boca, mas eu nem deixo proferir outra palavra. — E assim que chegar, eu aviso.

— Argh, grossa. — dessa vez é Eleanor quem revira os olhos.

Estalo a língua.

— Olha quem fala...

— Como é?

Ela estica o pescoço pra poder me ver melhor e faz uma cara zangada, me deixando mole na hora.

Apanhar de outra garota, ainda mais dentro de um banheiro, não está incluso na minha lista de coisas pra fazer antes de morrer, por isso me faço de boba:

— Nada não. — viro o rosto pro outro lado e finjo que estou intrigada com os padrões dos azulejos.

Escuto o som da cortina florida sendo puxada. Deu certo.

Solto a respiração, mas prendo logo em seguida quando minha bexiga lembra de que está prestes a explodir.

Sério, não dá.

Fico de pé e cutuco o celular, pra conferir a porcentagem.

Noventa e três.

Não devia ter feito isso, só me deixou mais ansiosa. Começo a andar pra tentar me distrair e parar de pensar na vontade de fazer xixi — são oito passos do balcão até a parede oposta então não funciona muito bem.

Mas o som que meus Jordans fazem contra a cerâmica quando me viro é satisfatório e alivia um pouco a tensão.

Tento contar até cem também, mas mal alcanço o número trinta quando Eleanor e sua jaqueta de couro estragam tudo — de novo .

Ela puxa a cortina toda de uma vez, me dando um baita susto.

— Dá pra parar com esse frivião aí?

— Oxe? Agora pronto... — bufo. — Você tava cantarolando o mesmo trecho de Escorpião agorinha e eu não falei nada! — digo, olhando feio pra menina deitada dentro da banheira.

As bochechas dela escurecem e eu sorrio vitoriosa.

— Tu ouviu?

Nem me esforço em responder, é óbvio que ouvi. O banheiro pode ser espaçoso, mas tem uma acústica boa — bom, eu acho que tem, não entendo bem dessas coisas.

E ok, não foi nenhum incômodo a ouvir cantando já que sua voz é bonita. Tanto quanto a do Jão.

Eu só não vou admitir isso porque ela tá sendo mal educada comigo desde o começo e se tem algo que minha mãe me ensinou é que a gente trata os outros como gostaria de ser tratado.

Logo, se ela fica gritando comigo deve ser porque prefere que gritem com ela?

Minha lógica não faz muito sentido. É o sono batendo — que hora deve ser?

— Tá, desculpa. — até o pedido de desculpas de Eleanor parece uma bronca. Ela se encolhe dentro da banheira, abraçando as pernas. — O barulho do seu tênis me dá gastura. — confessa, espiando por baixo da franja.

Mordo a parte interna da bochecha, me sentindo culpada. Sussurro um "Foi mal" e vou até o balcão pra conferir meu celular de novo.

Noventa e seis. Tá quase lá.

Levanto o rosto e encaro meu reflexo no espelho.

Meu cabelo está seco e os cachos apontam para direções aleatórias, o batom quase sumiu da minha boca graças a todos os copos de plástico que beijei e o óculos torto — uma lente é mais pesada que a outra — parece manchado.

Ou será que é o espelho?

— Ana Júlia.

— Hum. — resmungo a contra gosto.

É difícil fingir que não tá ouvindo alguém quando se está presa dentro de um banheiro. Mesmo que seja um banheiro espaçoso e com decoração chique.

— É verdade que você me odeia?

Fico estática, sem saber como reagir e por estar de frente pro espelho sei que não adianta disfarçar, ela consegue ver tudo.

Não consigo resistir, então deixo meus olhos vagarem para o seu reflexo sem culpa.

Eleanor está com o queixo apoiado em cima de um dos joelhos, o cabelo caindo ao redor do seu rosto em ondinhas perfeitas. O delineado de gatinho está meio borrado e tem glitter espalhado por seu rosto, ressaltando suas sardas.

Ela é como uma maldita obra de arte. Uma It girl em um filme de baixo orçamento, mas que de algum jeito vira um marco do cinema.

Puta merda eu tô muito bêbada, só pode.

Ainda com isso em mente, abro a boca e finalmente respondo. Sem medo:

— Sim.

É isso. Ela vai me mandar a merda ou confessar que também me odeia. Quem sabe bancar a superior e falar que sou uma idiota, que pra ela o que eu sinto é insignificante — acho que me deixaria de ego ferido, só um pouco.

Eu não me orgulho de odiar Eleanor, sei que é uma reação tosca, uma consequência do medo que vem me atormentando... Mas não consigo largar, tudo o que ela faz me dá combustível pra insistir nisso e eu gosto de fantasiar que é recíproco.

Faz eu me sentir menos tonta. Além de que, posso não ser alecrim dourado, mas também não sou falsa. Não ganharia nada mentindo sobre algo óbvio assim.

Eleanor levanta a cabeça e estica os joelhos.

Nós nos encaramos pelo espelho por um longo momento, até ela finalmente sair do estado de choque.

— Eu não te odeio. Quero ser sua amiga.

Agora sou eu quem fica sem palavras.

Olho para a pia, tentando fugir do seu olhar de cachorrinho que caiu da mudança.

Abro a torneira e boto um pouco do sabão líquido cheiroso que tia Isis tem. Lavo as mãos com cuidado, minha mente tá uma bagunça total. Dividida entre o que Cavalcanti disse e o incomodo na minha bexiga.

— Não podemos ser amigas.

Não pergunte porque, não pergunte porque, não pergunte...

— Ué, porquê?

Eu odeio tanto essa garota.

— Porque... — divago, fechando a torneira e enxugando as mãos na toalha felpuda perto de mim. — Sei lá Eleanor. Tem que ter um motivo? Porque você precisa ser amiga de todo mundo?

Caminho até o vaso sanitário e me senti na tampa, cruzando as pernas.

Mais do que nunca imploro pro universo que alguém abra a maldita porta e me livre dessa conversa esquisita.

— Ellie. Me chama só de Ellie, por favor. — deve ser a quinta vez que ela me pede isso. — E eu não quero ser amiga de todo mundo. Só sua.

Garota_X
Robin Sonata

Creator

Presas por tempo indeterminado no banheiro durante uma festa barulhenta, AJ e Eleanor são obrigadas a interagir.

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AJ sempre se sentiu como uma coadjuvante na própria vida, ou quem sabe apenas uma telespectadora que vê todas as cenas passando em câmera lenta, sem poder alterar o script. No seu último ano do ensino médio - iniciado com o pé esquerdo após uma gripe forte que a fez perder a primeira semana de aula - a dinâmica do seu grupo de amigos sofre uma mudança e tanto com a chegada de Eleanor Cavalcanti.

AJ e a garota nova criam uma antipatia pela outra logo de cara, alimentando a rinha infantil ao passar dos dias, até que durante uma festa, dada pelo melhor amigo de AJ, as duas acidentalmente ficam presas juntas.

Obrigadas a por as diferenças de lado graças a situação inusitada ambas acabam descobrindo que possuem muito mais em comum do que contra e assim um acordo de paz é selado - com uma condição um tanto... Incomum.
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