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Arco-íris Cor de Rosa

BANHEIRO DA UNIÃO [parte 2]

BANHEIRO DA UNIÃO [parte 2]

Mar 07, 2024

Abro e fecho a boca sem saber o que dizer.

Eleanor está me encarando sem piscar, as sobrancelhas levemente franzidas, os dentes mordiscando o lábio inferior.

Tenho que dizer alguma coisa. Eu sei disso, mas no momento não há um único pensamento coerente na minha cabeça.

Estou com sono, meio bêbada e minha bexiga parece que vai explodir. Não é o momento ideal pra ter uma conversa civilizada com a única garota em Cassiopeia que sabe que eu gosto de garotas.

— Mas, tudo bem. — ela divaga e inclina a cabeça para trás, apoiando-a nos azulejos. Porque azulejos se chamam assim se nem todos eles são azuis? — Agora que eu tenho certeza que você não gosta de mim, não vou forçar a barra. Só é meio... Decepcionante.

Desvio os olhos de volta pra ela, intrigada.

Minha parte sóbria diz pra ficar quieta e deixar tudo como está, mas a curiosidade é realmente o meu maior defeito. Se eu não falar nada sinto que vou remoer isso por semanas, talvez meses.

— Como é que é? Decepcionante porquê? — cruzo os braços, na defensiva.

Eleanor inclina a cabeça pro lado e arqueia as sobrancelhas. Ela está olhando na minha direção, mas não me vê exatamente. Acho que seu foco é a porta atrás de mim.

Olho por cima do ombro, na esperança tola de que alguém gire a maçaneta.

Um minuto inteiro se passa e como nada acontece, a menina volta a falar:

— Desde o primeiro dia de aula, todo mundo não parou de falar de você. Os professores notaram sua falta, o pessoal da sala sempre tinha alguma história pra me contar sobre tu, ou no mínimo, que te envolvia. Kaique e Lud então? Passavam noventa por cento do tempo choramingando de saudade e dizendo o quanto eu ia te adorar! Me iludindo, falando que a gente ia se dar super bem e... Eu criei expectativas, entende? Claro, foi estupidez minha... — resmunga, fazendo uma careta.

Sinto meu rosto esquentar de vergonha.

Foi uma merda ficar resfriada bem no primeiro dia de aula, eu nem planejava faltar... Mas fiquei muito mal mesmo e minha mãe me proibiu de sair de casa. Passei uma semana e meia na cama tomando canja de galinha e remédio pra febre, acompanhando a volta às aulas da minha turma pelos storys do Instagram e me sentindo de fora.

O resfriado me derrubou tanto que quando fiquei boa estava genuinamente empolgada pro terceiro ano. Mas essa alegria só durou até eu chegar na sala e descobrir que meu lugar de sempre no mapeamento pertencia a garota nova que se tornou a queridinha da turma durante minha semana ausente.

Para ser sincera, fiquei morrendo de medo.

Eu não sou exatamente alguém "popular", do tipo que todo mundo quer ser amigo. Esse mérito é de Kaique, eu só... Tenho sorte de que a mãe dele e a minha são melhores amigas de infância e por consequência, nós também somos.

As pessoas me incluem nas coisas, pois sabem que Kaique está sempre grudado comigo. E mesmo assim, eu só comecei a me comunicar melhor depois que Ludmila virou minha amiga.

Kaique é tipo o galã tímido, gentil e cativante. Lud a extrovertida que topa tudo e todo mundo ama e eu... A ameba antissocial que teve sorte de ser sugada pela bolha deles.

Então imagina só como fiquei desesperada ao perceber que em uma semana Eleanor conseguiu o que eu levei anos para fazer? Foi impossível não achar que eu ia ser deixada de lado.

Por isso, admito que não me passou pela cabeça que meus amigos iam falar bem de mim pra uma estranha e muito menos que ela ia me por em algum tipo de pedestal.

Tanto faz, não é minha culpa.

Umedeço os lábios e descruzo os braços, sem saber o que fazer.

— Bom, sinto muito se eu não cumprir com a imagem que você criou de mim. — reviro os olhos.

A menor ri com desdém e aponta pra mim com as palmas para cima.

— Viu só? É justamente sobre isso! — faço uma careta, prestes a perguntar de que merda ela tá falando, mas Eleanor me interrompe e continua a tagarelar. Ela não cala a boca nunca meu Deus? — Eu te imaginei de mil maneiras, cada um mais legal que a outra e aí justo na nossa primeira conversa... Te irritei pra caralho. Quando eu me toquei que era você na maldita cadeira quis enfiar minha cara num buraco, porque criei uma péssima primeira impressão. Você ficou logo com cara feia pro meu lado.

Rio nervosa. Não acredito que ela notou que eu estava mesmo brava... Merda, isso significa que eu não disfarço tão bem quanto achei.

Mas sou incapaz de admitir que ela tem razão. Meu pai me criou pra ser uma garota simpática e educada, totalmente o oposto do que tenho sido com Eleanor desde que ela chegou...

Talvez eu me arrependa um pouco agora — só um tiquinho —, porém o orgulho me impede de confessar.

— Eeeeeu? — pergunto, me fingindo de boba. — Fazer cara feia pra você? Da onde que-

— Ah, por favor Ana Júlia, foi super óbvio. — ela rebate, me atropelando. E errando meu nome. De novo. — E eu fiquei me sentindo muito culpada, morri de medo que te incomodar fosse fazer todo mundo me detestar, então fiz de tudo pra ser legal e te provar que eu era gente boa, mas você só me deu patada!

— Então você tá dizendo que esse tempo todo, ficou me enchendo o saco porque queria ser minha amiga? — ela concorda com um aceno e murmura um "Basicamente, sim". — Até parece...

Será mesmo que... Não, não tem como.

Rebobino na mente todos os "Bom dia" que interpretei como irônicos, todos as respostas secas as minhas perguntas, todas as vezes que me interrompeu enquanto eu falava — igual Tatiane — e os comentários sobre minha altura.

Me levanto e vou para perto da pia de novo.

Se isso era Eleanor tentando fazer amizade... Quer dizer então que eu sou a pessoa errada da história?

— Isso é a coisa mais absurda que eu já ouvi!

Cavalcanti franze a testa.

— Ué, porquê? É verdade Ana Júlia! — ela inclina o corpo e sai da banheira aos tropeços.

RÁ! Viu só? Não tem como eu ser a vilã aqui. Ela tá tentando manipular a narrativa.

Pego o celular e confiro a porcentagem. Noventa e nove, meu deus que demora do caralho!

— Ah é? — digo com sarcasmo e Eleanor me responde com um audível e desesperado "É!" que ignoro. — Então explica porque você não me chamou pra jogar carimba? Ou porque sempre me impede de falar? Ou melhor ainda! O motivo de ficar errando meu nome de propósito!

Respiro fundo, tentando recuperar o fôlego.

Juro que sinto cada célula do meu corpo vibrando de orgulho. Não costumo enfrentar ninguém, mas como não tenho a opção de fugir, também não vou deixar Eleanor sair por cima.

Arqueio uma sobrancelha, esperando a resposta dela e pra minha infelicidade, Cavalcanti está com uma na ponta da língua.

Ela diminui o espaço entre nós e olha fundo nos meus olhos enquanto se justifica.

— A Lud me disse que você não gosta de jogar queimado. Por isso não convidei e... — explica, se referindo ao jogo épico que rolou anteontem depois da aula e da qual todo mundo não para de falar. Eu fui a única a não participar e por tabela estou por fora de todas as piadas internas. — Espera... Como assim errando seu nome? — Eleanor apoia as mãos na cintura e junta as sobrancelhas, confusa.

Solto uma risada descrente.

— Para de se fazer de besta Eleanor. — rosno, dando um passo à frente. Uma tentativa xoxa de intimidá-la. Posso ser alta, mas dá pra sentir a falta de confiança saindo dos meus poros. Nem Eleanor que mal me conhece cairia nessa. — Não vou cair nesse papo de-

— Seu nome não é Ana Júlia!? AJ quer dizer o quê então pelo amor de Deus? — pergunta.

Bufo furiosa com o fato de que ela já está falando por cima do que eu digo de novo.

Má educada.

Porém, não necessariamente mentirosa...

A encaro com atenção, procurando qualquer sinal de que ela está tentando me enganar, mas o desespero e a surpresa de Eleanor são genuínos.

E isso meio que me acovarda um pouco.

Encolho os ombros e abaixo o rosto, encarando meus tênis azuis.

— Não, meu nome não é Ana Júlia. — falo baixinho. — É Ana Jocilene.

Odeio dizer meu segundo nome em voz alta. Desde que o meu apelido pegou, quando eu tava no sétimo ano acho, só escuto esse nome sair da boca de alguém quando minha mãe fica puta e fala meu nome inteiro pra me dar bronca.

Eleanor pisca confusa. Ela tem uma expressão idiota no rosto; a boca aberta, as sobrancelhas juntas e os olhos brilhantes e perdidos.

— Se você rir eu te mato. — aviso logo.

— Eu não vou rir do seu nome.

— Todo mundo ri. É um nome péssimo, eu já sei disso. E nada de piadas, é sério. Se não, acabo com você. — ameaço, mas só da boca pra fora.

Pro bem ou pro mal sou a personificação de "só tem tamanho". Não aguentaria uma briga nem com criança pequena.

Eleanor levanta as mãos na defensiva e dá passo para trás.

— Calma ai, eu já disse que não vou rir! E nem fazer piada... É só que...

— Não, nem comece. Eu não quero saber sua opinião sobre eu ter um nome feio.

— Seu nome não é feio. — ela projeta o lábio pra frente, fazendo um biquinho.

Ótimo. Agora a menina que eu odeio tem pena de mim, maravilha!

— Me poupe. Jocilene é um nome feio pra caralho. Parece até que eu já tenho oitenta anos, nos meus piores pesadelos alguém sempre me chama de Dona Jocilene. — resmungo, sem pensar bem antes de sair confessando o quanto detesto meu nome. — E pra piorar nem dá pra ter um apelido descente!

Dou as costas para ela e puxo o carregador da tomada, apertando o botão de ligar do celular com força.

Por favor, por favor, por favor... Preciso muito sair daqui.

— Claro que dá.

Olho de esguelha pra outra menina. Ela está com as mãos dentro dos bolsos da sua jaqueta e um pequeno sorriso irritante nos lábios carnudos.

— Não, não dá. Eu já tentei um monte, o menos ruim foi AJ.

— Tem apelido sim. — insiste Eleanor.

Reviro os olhos.

— E qual seria, em sabichona?

— Jocy! Não, melhor ainda! Jô. Acho até mais legal que AJ.

— Jô?

— Hanram. — confirma, com um aceno.

Ela parece tão orgulhosa de si mesma que não consigo evitar a risada que escapa da minha garganta.

Essa menina não pode ser real.

Abro a boca, mas sinto o celular vibrar na minha mão, então desisto. Meu foco vai para o aparelho que estou segurando e que finalmente decidiu ligar.

Tiro o polegar do botão de ligar e espero pacientemente enquanto o telefone se inicia.

— Ufa. — Eleanor comemora e só então eu noto o quão perto ela está.

Me mexo por reflexo e meu braço encosta no tecido da sua jaqueta preta.

A observo de soslaio e noto que está na ponta dos pés, concentradíssima na tela em minhas mãos — Tão perto assim de mim, é impossível não reparar nos detalhes. Como nos piercings na orelha, a corrente no pescoço escondia por dentro da camisa, o sinal atrás do lóbulo... Ou será que é uma tatuagem?

Quase parece que nossa... Briga? Conversa? Ah! Tanto faz.

Parece que o que acabamos de falar não passou de um delírio meu... Tomara que seja mesmo, tomara que ao sair desse banheiro eu nunca mais precise dirigir a palavra a Eleanor Cavalcanti de novo.

— Jô, olha! — Eleanor toma meu pulso de leve.

Faço uma careta pro apelido que ela inventou, afinal eu não disse que podia usar, mas mordo a língua e me concentro no que importa.

Deslizo os dedos pela tela e erro o padrão duas vezes por conta do suor nas mãos. Esfrego a palma na calça e depois tento de novo. Quando dá certo vou pro aplicativo de mensagem e procuro minha conversa com Ludmila.

Clico no ícone de ligação e espero.

Espero... Espero... Espero e... A ligação cai.

Aperto os olhos com força e tento de novo, rezando pra todos os santos que me vem a mente prometendo o que não posso cumprir.

Atende Lud, atende, atende, atende!

— Alô?

Solto todo o ar de uma vez ao finalmente ouvir a voz bêbada da minha amiga.

— Ei Lud! É a AJ, então é que... — a garota ao meu lado se estica ainda mais e se inclina pra mim tentando ouvir a conversa. Ok, nada discreta. — E-eu tô aqui presa no banheiro. — digo tentando não me desesperar pelo toque de Eleanor no meu ombro.

Inspiro fundo uma vez, tremendo de nervoso sem motivo.

Um cheiro cítrico de colônia masculina invade meu olfato. Parece... Limão?

— Que banheiro?

— Do corredor? — falo e como ela não responde, acrescento. — Da casa do Kaique? — ela tá tão bêbado que não duvido que tenha esquecido até o próprio nome.

Ludmila solta um "Ah!" e eu escuto uma barulheira ao fundo, provavelmente música alta misturada com risadas e conversas do pessoal ao redor.

— Peraí! Peraí ô! Tô no telefone!

Alguém grita algo tipo "Vai logo Lud!" e ela se afasta pra responder algo que não entendo.

— Só um minuto, AJ. — pede.

E aí desliga.

A menor se afasta de mim no mesmo instante, o que agradeço silenciosamente por causa do perfume forte.

— Hã... Acho que ela tá vindo? — digo colocando o celular no bolso.

— Hum. — Eleanor solta um grunhido e leva a mão ao cabelo, bagunçando os cachos.

Parece mais impaciente do que antes.

Bem, agora só nos resta esperar.

EVENTUALMENTE alguém abre a porta do banheiro, mas com toda certeza não é Ludmila.

Um garoto se espreme pra dentro, sem ligar de empurrar a porta contra mim e se atira em cima da privada, abrindo a tampa e botando tudo pra fora.

Fico sem reação, diferente de Eleanor, que se apressa e impede a porta de bater com o coturno.

— Graças a Deus. — solta, me puxando pro lado e escancarando a porta pra que possamos sair.

Só me dou conta de que ela ainda está segurando meu pulso quando chegamos até a área descoberta.

Abro a boca pra falar algo, mas no mesmo instante gritos de comemoração e palmas tiram minha atenção.

Encaro a rodinha de amigos onde eu estava horas antes, rindo e assobiando enquanto Monique e outra garota se beijam pra valer.

Não sei o que me deixa mais em choque, o fato de ainda estarem brincando disso ou perceber que a garota beijando minha crush é ninguém menos que minha melhor amiga.

Eu devia mesmo ter ficado em casa.

— Vem. Vamo embora. — diz Eleanor, me puxando pra longe da cena.

Garota_X
Robin Sonata

Creator

AJ e Ellie botam as cartas na mesa e discutem sobre a primeira impressão que tiveram uma da outra.

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AJ sempre se sentiu como uma coadjuvante na própria vida, ou quem sabe apenas uma telespectadora que vê todas as cenas passando em câmera lenta, sem poder alterar o script. No seu último ano do ensino médio - iniciado com o pé esquerdo após uma gripe forte que a fez perder a primeira semana de aula - a dinâmica do seu grupo de amigos sofre uma mudança e tanto com a chegada de Eleanor Cavalcanti.

AJ e a garota nova criam uma antipatia pela outra logo de cara, alimentando a rinha infantil ao passar dos dias, até que durante uma festa, dada pelo melhor amigo de AJ, as duas acidentalmente ficam presas juntas.

Obrigadas a por as diferenças de lado graças a situação inusitada ambas acabam descobrindo que possuem muito mais em comum do que contra e assim um acordo de paz é selado - com uma condição um tanto... Incomum.
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