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Arco-íris Cor de Rosa

NÃO HÁ PROTAGONISTAS AQUI [parte 3]

NÃO HÁ PROTAGONISTAS AQUI [parte 3]

Mar 12, 2024

Bufo e viro o rosto na direção de Lud de novo, prometendo a mim mesma que vou parar de deixar Cavalcanti me afetar.

EU amo a aula de educação física.

Não porque gosto de praticar esportes ou ficar toda suada depois de correr mil vezes no ginásio, mesmo que a asma não me impeça mais de fazer atividade física — de forma moderada — acabei perdendo o gosto pela coisa depois que cresci.

Por isso costumo me esforçar o mínimo pra manter minha média na disciplina. Compareço a todas as aulas, participo das atividades obrigatórias e depois faço um draminha, mentindo pro professor que me sinto cansada — ou quando o lance da asma já tá batido, minto que tô morrendo de cólica — só pra poder ficar de boa na arquibancada.

A única proibição clara é o uso de celular, então aproveito pra fazer coisas que não posso nas outras aulas ou em casa.

Tipo ler algum livro ou desenhar ou até mesmo cochilar, dependendo de quanto sonolenta estou por ficar lendo fanfic de madrugada.

Hoje eu pensei em tirar um cochilinho no colo da Lud — que é outra enrolona de educação física —, mas por um milagre ela decidiu participar da partida de pega bandeira e me abandonou aqui na arquibancada com um monte de garrafas d'águas, casacos e celulares.

Então escolhi minha segunda opção; desenhar.

Tem quase um mês desde o último rascunho que fiz no meu caderno de capa dura, então posso dizer que estou contente em saber que ainda lembro o básico de anatomia.

Claro, não posso buscar inspiração no Pinterest e só trouxe uma caneta em vez de lapiseira e borracha, então não desenho nada muito elaborado. Só alguns rabiscos aleatórios de olhos bem realistas e os rostos dos meus amigos.

Estou concentradíssima finalizando um desenho quando Kaique senta do meu lado pra pegar sua garrafa d'água.

Ele esbarra no meu joelho, onde o caderno está apoiado e me faz borrar.

Agora Ludmila tem uma cicatriz que vai de uma bochecha a outra — depois dou um jeito de fazer ela parecer uma pirata descolada.

— Kaique! — reclamo, dando um tapa forte no seu braço.

Me arrependo logo em seguida ao sentir sua pele pegajosa e suada.

Faço uma careta e limpo minha mão na sua camisa de educação física — uma regata amarela com o brasão da escola.

— Desculpa. — ele suspira e então bebe mais alguns goles de água. Seu rosto está vermelho e o cabelo normalmente penteado pra trás está grudado na testa, encharcado de suor. — E pelo que rolou mais cedo no carro também.

Ai droga, por um breve momento eu tinha soterrado isso na minha memória.

Pressiono os lábios e me afasto um pouco, sem responder. Olho para o centro da quadra, onde Eleanor está correndo em direção a bandeira do time adversário, desviando de todos que tentam tocá-la e congelar ela no lugar.

Tatiane solta um grito de desgosto quando falha em defender a bandeira — um cone laranja — e Eleanor corre de volta com o prêmio para seu lado da quadra. Sã e salva.

Cacete, ela é boa.

— CHUPA Tatiane! — Lud berra, trocando um "toca aqui" com Eleanor e depois com Monique.

Apoio o queixo no punho, observando a garota ruiva e Cavalcanti interagindo — provavelmente revendo táticas de jogo.

Monique está com parte do cabelo preso num coque fofo, as bochechas coradas, já Eleanor parece ainda menor por conta do uniforme enorme e folgado.

A barra da camiseta termina nas coxas e o que devia ser um short preto, mais parece uma bermuda que vai até metade da sua panturrilha.

— AJ? — Kaique chama, me cutucando.

— Hã? — solto, sem desviar a atenção de Monique.

Ela está rindo de Ludmila — que fica muito competitiva quando joga qualquer coisa — e não consigo parar de sorrir porque Monique é uma gracinha.

— Cê me ouviu?

— Ouvi. Tá tudo bem, só não dá mais carona pros Pedros. Eles são péssimos.

Diego parece só ranzinza, mas pode ser também por conta da ressaca.

— Na verdade... — a hesitação dele me faz virar o rosto para olhar em seus olhos. — Meio que não posso fazer isso. — diz, coçando a nuca.

Junto às sobrancelhas e abro a boca, em choque.

— Como assim?

— Sou capitão do time de natação. Tenho que ser legal com os outros integrantes. Se não gostarem de mim, não vão me respeitar. — justifica.

Entendo que ele se esforçou muito pra alcançar esse posto, mas ser capitão não significa que ele tem que liderar o time? Motivá-los a serem melhores em vez de só agradar quem não presta?

— E ser legal quer dizer deixar o Pedro Lucas falar um monte de merda homofóbica!?

Não é nem a primeira vez que escuto algo do tipo sair da boca daquele idiota. Esse é o principal motivo pelo qual evito ficar perto dele — nem preciso dizer que sentar lá no fundão tá sendo meu inferno pessoal né?

Kaique apoia os antebraços nos joelhos, pendendo o corpo pra frente.

— Foi só uma piada idiota. Ele é assim! A gente estuda junto há seis anos, cê sabe disso.

Sei sim. Sei e odeio que ele possa falar a coisa mais horrível e desrespeitosa do mundo e sair impune porque é "só um garoto". Como se ser sobrinho da diretora já não fornecesse privilégios o bastante.

Marco a página com a caneta e fecho o caderno.

Minha vontade de desenhar morreu completamente.

— Tá, mas e você? — digo, zangada.

Meu amigo faz uma careta confusa e eu resisto à tentação de revirar os olhos.

Ele botou Pedro Lucas pra fora do carro, mas quando foi na terceira aula já estava rindo das piadas horríveis dele durante uma leitura em grupo.

— Como assim?

Cruzo os braços numa tentativa de esconder que estou tremendo e respiro fundo antes de falar, pra não deixar a mágoa transparecer na minha voz:

— Nada, deixa pra lá...

Convencido, Kaique larga sua garrafa ao meu lado, estala um beijo suado na minha bochecha e desce a arquibancada, retornando para a partida.

Foco minha atenção no jogo, porque é a melhor distração que tenho no momento pra me impedir de chorar.

Nem sei o que tipo de resposta eu estava esperando. Não é como se minha vida fosse um filme colorido onde eu consigo mudar as pessoas com o poder do protagonismo e frases de efeito.

É claro que ele não entende e muito menos se importa.

Ninguém se importa.

— Aqui Ellie! Aqui! — grita Lud, agitando o braço.

Acompanho Eleanor com o olhar enquanto ela desvia de várias pessoas do outro time como se fosse a coisa mais simples do mundo.

Diego meio que se joga no chão e tenta agarrar a perna dela, mas Cavalcanti pula por cima do garoto e acerta um tapa na mão da minha melhor amiga, a libertando. Quase como se tivessem ensaiado antes, as duas correm em direções opostas, atravessando o resto do campo adversário pelos cantos.

Me inclino pra frente, bem mais interessada no jogo do que antes.

— Alguém segura ela! — Tatiane grita, do outro lado da quadra.

Ela tentou atacar o time da Lud, mas foi impedida por Monique e está congelada no lugar até alguém do seu próprio time tocá-la.

Pedro Augusto ouve a ordem de Tatiane, mas fica confuso se deve correr atrás de Lud ou de Eleanor e antes que tome a decisão certa as duas ultrapassam a linha que divide a quadra, mais uma vez com o cone laranja.

Uma vitória de cinco a um. Impressionante.

O apito do professor soa, encerrando o jogo e a aula.

Rio vendo Ludmila aos berros, pulando de alegria. Ela envolve Eleanor num abraço apertado antes que a menor tenha tempo de recusar.

Encantada com a alegria delas, levo os dedos a boca e assobio.

— Uhuh! Isso aí! — grito, batendo palmas.

O olhar de Eleanor me encontra na arquibancada e ela sai do estado de choque pelo abraço repentino, levantando o cone que ainda está em sua mão enquanto sorri, mostrando os dentes.

Sorrio de volta, me dando conta de que tem sim alguém que se importa, mesmo que não seja quem eu quero.

ASSOPRO o pó de borracha do meu caderno e refaço a equação que errei.

Ao meu lado Ceci — minha outra colega de trabalho — risca com marca texto um artigo científico cujo resumo ela tem que entregar amanhã.

É uma tarde sem movimento no Mar Profundo, o que me possibilita terminar todas as atividades de casa acumuladas pra aproveitar o fim de semana do melhor jeito possível.

Fazendo nada.

— E ai? — pergunto, mostrando meu caderno pra mais velha.

Ceci tira a tampa do marca texto e franze as sobrancelhas enquanto repassa a conta.

— Perfeito. — sorri, fazendo joinha com a mão esquerda.

Solto um suspiro aliviado por finalmente ter entendido como funciona. Já não vou errar no dia da prova.

— Valeu de novo por me ajudar com matemática. Amanhã te pago um lanche no Caverna. — prometo, enquanto guardo meu material escolar de volta na mochila.

Ceci ri e gira no seu banco, largando seus papéis por um instante em cima do balcão azul escuro.

— Não é pra tanto AJ, mas se quer mesmo me pagar, aceito um desenho.

Levanto o olhar, analisando bem sua expressão pra ter certeza que ela não tá zombando comigo.

— Um desenho? Meu?

Ceci mexe os ombros e solta um "Pode ser" enquanto apoia o rosto numa das mãos.

Suas unhas estão pintadas de um vermelho vivo, combinando com metade do seu cabelo — a outra metade é pintada de preto. Ela tem a mesma idade da minha irmã, o que significa que é quatro anos mais velha do que eu.

Mas diferente de Alice, Ceci me leva a sério. Como pessoa quero dizer.

A gente conversa sem problemas, muitas vezes confidencio pra ela quando minha mãe faz algo que me deixa chateada ou como a confiança de Ludmila me aterroriza as vezes e em troca Ceci conta quando seu namorado está sendo um babaca ou sobre alguma fofoca boa de uma das suas colegas de apartamento.

Consequentemente, as vezes deixo escapar mais do que gostaria, tipo meu sonho impossível de fazer uma faculdade que tenha haver com desenhar — menos engenharia, odeio cálculos.

— Qual é AJ, vai lá! Pra sua fã número um! — insiste, me empurrando de leve.

Solto uma risadinha sem graça e me levanto, afastando minha bolsa pro canto com o pé. Apoio os cotovelos no balcão e dou uma olhada no saguão do cinema. Mais deserto do que um cemitério num apocalipse zumbi.

— Hum... Vou pensar no seu caso. — Ceci bate palmas, comemorando. — Tema livre? Ou...

— O que você quiser, sei que vai ser bonito. E daqui há uns anos, quando todo mundo souber seu nome e pagar caro pelos seus quadros, vou vender ele e comprar uma casa de praia em Almirante.

Agora solto uma gargalhada cheia.

— Em Almirante? Vai trocar uma cidade beira de praia por outra?

— Eu gosto de praia. — confessa, cruzando os braços e revirando os olhos. — O que odeio em Cassiopeia são as pessoas.

— Ai! Essa doeu!

Viro o rosto na direção da nova voz.

Um rapaz alto e de óculos quadrados caminha até nós. Ele está vestindo uma camiseta cinza e uma bermuda com desenhos do Bart Simpson.

— Amor! — Ceci grita, extremamente contente.

Eles trocam um beijo cheio de língua por cima do balcão e eu sorrio sem graça, desejando um buraco pra enfiar minha cabeça.

Talvez a pipoqueira seja uma opção.

— Oi Juan. — cumprimento.

— Irmã da Alice. — brinca, apontando uma arminha de dedo pra mim.

Ele, Ceci e Alice estudaram juntos na escola — a mesma que a minha, para a surpresa de ninguém —, não eram exatamente amigos, mas quando você cresce em um lugar como Cassiopeia, é impossível não conhecer todas as pessoas da sua idade.

Se não por vontade própria ou porque estudou com a pessoa, acaba sendo porque sua mãe conhece a mãe de alguém que passou em tal curso difícil na faculdade ou em um concurso que paga bem.

Ceci repreende o namorado com um beliscão e Juan pede desculpas pela implicância, usando meu nome dessa vez.

Deixo os dois de namorico e aviso a minha colega que vou rapidinho no banheiro, mas é só uma desculpa pra não segurar vela até a hora da gente largar — ainda faltam vinte e cinco minutos.

Tiro o celular do bolso e ligo o 4G. A barra de notificação se enche de mensagens do grupo da sala e de outras conversas, mas eu foco apenas numa de um aplicativo com ícone preto.

Garota_X
Robin Sonata

Creator

AJ descobre tem uma revelação durante a aula de educação física.

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Obrigadas a por as diferenças de lado graças a situação inusitada ambas acabam descobrindo que possuem muito mais em comum do que contra e assim um acordo de paz é selado - com uma condição um tanto... Incomum.
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