Sol em aquario☀️🐠@meunomenéSol Em resposta a @HDC_Brasil
"@alienLesbica pra vc chorar comigo"
Jogo a cabeça pra trás ao ver que se trata de um edit com uma música triste do meu shipp favorito em Horror Drama Club e já coloco meus polegares pra trabalhar, fazendo um comentário em capslock super sofrido.
Depois entro na minha conversa com a Sol, uma amiga que fiz no fandom da série pelo Twitter.
A gente não sabe o nome verdadeiro uma da outra nem nunca fizemos chamada de vídeo, mas já jogamos muito Among Us em ligação juntas e vivemos falando das nossas fanfics e teorias favoritas de Horror Drama Club.
Não é uma amizade convencional — e existe cinquenta por cento de chance dela ser um velho tarado —, mas é verdadeira e intensa. Já contei mais coisas sobre mim pra Sol do que pros meus pais ou pro Kaique.
Essa é a graça do anonimato na internet.
[mdss aaaaaaaaa faz tanto tempo que a gente n se falaaa]
[dooooory oiiii]
[mds fkjfdkfkdfj sim uma ETERNIDADE]
[como vc tá?]
[indo kfkffk e vc?]
[NOSSA]
[NEM TE CONTO]
[kfgfgflgkf]
[apois conteee]
[lembra daquele menino]
[que eu sou afim?]
[aquele que vc gosta desde os 8?? hanrã to ligada]
[então]
[fkdfjdkfjdfkjdfkd]
[a gente meio que ficou]
Puta merda.
[puta merdaaaaaaaaaaaa]
[MDS]
[COMO ASSIM]
[EXPLICA ISS]
[tá calma kkk]
[foi numa festa]
[nem lembro muito bem pq]
[eu tava meio alta já]
[cachaceira]
[cade o respeito kkk]
[que mané respeito]
[somos amgs]
[tão tarr kkk]
[enfim]
[a gente meio que se esbarrou]
[literalmente]
[mds tão clichê hetero]
[blé]
[kkkk silêncio lesbica estou hablando!]
[kKDKDSDK]
[enfim]
[ele esbarrou em mim e ai eu acabei sujando minha blusa]
[de cerveja]
[e então ele me levou até o quarto dele pra me emprestar uma camisa]
[UAU]
[que cara obvio]
[aa para]
[nem foi tá?]
[ele só tava sendo educado]
[hm sei]
[juro]
[ta ta continuaa]
[SIM]
[a gente foi no quarto dele]
[e ai ele me deu uma camisa e tal]
[falou tipo "se troca aí que eu espero lá fora"]
[mas ai kdkfdkfdjf]
[sei lá o que deu em mim]
[quando ele ia saindo]
[puxei ele e tasquei um beijão]
[MEU DEUS]
[DFKKDKFKDK]
[amg vcs?????]
Queria que a gente tivesse cara a cara pra ela poder ver minha expressão, que deixa bem mais óbvia minha pergunta do que um monte de interrogação.
[NAO]
[tipo foi quase]
[mas nao]
[e ainda bem pq]
Solto o ar impaciente enquanto Sol digita. Não é comum ela demorar uma eternidade pra escrever e isso só me deixa mais ansiosa pra saber qual foi o desfecho da história.
Tenho um montão de coisa pra contar a ela também, mas não quero atropelar o assunto.
Escuto o barulho de uma porta e escondo o celular de volta no bolso sem nem bloquear a tela, me virando na direção do som, com medo que seja o gerente.
Pra minha sorte, é apenas Felipe. Ele está sem o colete e com quatro botões da sua camisa abertos, a gravata borboleta frouxa e a teta brilhando de suor.
Assim que me vê, não hesita em reclamar:
— Lá dentro tá mais quente que um forno!
— Sauna grátis. — brinco.
O mais baixo solta um "Haha" nada divertido e caminha até onde estou, apoiando as costas na parede e deslizando até o chão.
Instantes depois, o lanterninha e os poucos clientes que assistiram a reprise de Titanic começam a sair da sala.
O Mar Profundo conta com seis salas de cinema. Uma está interditada, três ainda usam projetores antigos que exibem só filmes de rolo e duas foram adaptadas para sistema via satélite.
Muita gente acha antiquado e por isso prefere viajar até Abricó — a cidade mais próxima com um shopping — para assistir os lançamentos recentes, mas eu acho que o método antigo tem seu charme e que seu Gerônimo sempre escolhe ótimos filmes para por em cartaz.
Talvez porque nosso gosto cinematográfico seja parecido.
Desvio o olhar para o menino sentado ao meu lado no carpete com desenhos de losangos.
— Ei. — chamo, cutucando Felipe com o pé. — Que dia é o lance do seu filme mesmo?
— Ah! Que bom que cê comentou... — ele estica a mão para que eu ajude a levantar. Quando o puxo pra cima noto o desenho de caneta permanente contrastando na sua pele marrom, é uma estrela sorridente. — Ia ser sábado, mas vamos remarcar pra semana que vem. Por conta da reunião. — resmunga, fazendo uma careta. Franzo a testa e o observo enquanto Felipe usa uma liga de cabelo para prender os cachos rebeldes. — Eu nem fui pra maldita festa na praia, mas certeza que minha vó vai ficar fula comigo assim mesmo e-
— Espera. Que reunião? — interrompo.
Revejo na mente o calendário escolar. É muito cedo pra uma reunião de pais e mestres, nem fizemos as primeiras provas e se fosse algo sobre a formatura eu certamente teria recebido algum lembrete do meu celular.
— Ué, não soube? A diretora ligou pra todos os pais e marcou uma reunião para depois de amanhã. Tão dizendo que alguém abriu o bico e falou do dia da praia. — ele explica, tão empolgado pela fofoca que nem disfarça o sorriso. — O grupo tá pipocando! Tipo, como a turma toda faltou, é óbvio de que acharam suspeito, mas se alguém contou mesmo. Minha aposta é que foi o Pedro Lucas. Ele é boca de sacola e medroso pra caralho, além de ser sobrinho da diretora né.
Arregalo os olhos, completamente em choque.
Puta merda. Fudeu foi tudo.
Engulo em seco e concordo com um aceno de cabeça, tentando disfarçar minha surpresa.
— Hum... É, f-faz sentido.
Felipe se abana com a mão e murmura um "Pois é" antes de continuar suas reclamações sobre como essa reunião estragou seu cronograma pro tal filme.
Não contribuo muito para a conversa, me limitando a concordar com tudo que ele diz.
Parece até que um furacão passou pela minha cabeça, desestabilizando tudo. Não acredito que fui estúpida o bastante pra esquecer da merda que fiz só porque a diretora não jogou a bomba na turma logo no dia seguinte.
Tô tão ferrada que nem sei por onde começar.
Quando descobrirem que a culpa é minha é capaz de jogarem ovo podre em mim, quem sabe dar um jeito de me expulsar da turma ou sei lá fingirem que não existo pelo resto do ano.
Vou virar uma exilada igual Felipe e os amigos deles. É possível que até eles me ignorem só pra não pioraram sua situação — e eu também nunca fiz nada legal pra merecer a pena deles.
Eu ferrei tudo.
— Enfim! Reunião suspensa até segunda ordem. — suspira, desanimado. — Inclusive AJ, você pode avisar pra Ellie? Não tenho o número dela. — Felipe dá um tapinha amigável no meu ombro e então se afasta, indo na direção dos banheiros.
Balbucio algo que espero ter sido um "Ok." e me apoio na parede, escorregando até o chão antes que meus joelhos cedam de vez.
E agora? O que eu faço?

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