Please note that Tapas no longer supports Internet Explorer.
We recommend upgrading to the latest Microsoft Edge, Google Chrome, or Firefox.
Home
Comics
Novels
Community
Mature
More
Help Discord Forums Newsfeed Contact Merch Shop
Publish
Home
Comics
Novels
Community
Mature
More
Help Discord Forums Newsfeed Contact Merch Shop
__anonymous__
__anonymous__
0
  • Publish
  • Ink shop
  • Redeem code
  • Settings
  • Log out

Arco-íris Cor de Rosa

PATINHOS NAUFRAGADOS [parte 3]

PATINHOS NAUFRAGADOS [parte 3]

Apr 26, 2024

Porém, ontem mesmo durante o trabalho, o menino me disse que o encontro foi remarcado para esse sábado — ou seja, daqui a três dias contanto com hoje — e de novo eu repassei a informação para Eleanor. Só não mencionei sobre sua condição para sermos amigas porque estava pirando pra tentar resolver a merda que causei a ela.

Sinceramente, ainda não tenho certeza se vou ou não, só que a curiosidade me impede de ficar quieta.

— Depende de ti. Quero que a gente seja amiga, mas não vou forçar ninguém a fazer nada.

A menor se inclina para pegar um papel toalha da máquina e depois se olha no espelho, tentando reparar o estrago feito pelo batom.

Quando termina, ela dobra o papel e o pressiona de leve entre os lábios para tirar o excesso, fazendo um sonoro "Pop!".

Mordisco o lábio inferior, pensando.

— Se não somos amigas, o que somos então? Como você diz uma coisa dessas logo depois de afirmar que vai estar aqui por mim se eu precisar?

— Não preciso ser amiga de alguém pra fazer a coisa certa Jô. Então sei lá, podemos ser... — Eleanor dá de ombros. — Algo tipo, hum... Compatriotas lésbicas?

É impossível não deixar escapar uma risada.

Não pergunto se é uma brincadeira, porque noto na sua postura e na falta do típico sorriso que está falando bem sério.

E mais uma vez, eu não tenho uma resposta adequada, então me esquivo.

Destampo meu suco e dou uns bons goles antes de mudar de assunto.

— Deu certo falar com a Lud?

Eleanor pisca algumas vezes, como se tentasse lembrar do que estou falando.

— Hanram. — diz por fim e em seguida joga o papel toalha na lixeira perto da gente.

Termino de beber o suco, jogando a garrafa fora logo em seguida.

— E quando foi isso que eu não vi? — franzo a testa.

A menor pega e abraça sua lancheira contra a barriga.

— Antes de eu te encontrar na escadaria pra biblioteca.

Desencosto do balcão e me viro para Eleanor, desacreditada.

Ela para de afofar os cachos e me olha de volta, esperando.

Estou à beira de um colapso.

Quer dizer então que eu só perdi meu tempo planejando tudo? Que a bronca que levei e a redação enorme que tenho que fazer foram em vão!?

— Como assim!? Porque você não disse!?

Eleanor junta as sobrancelhas e pisca os olhos alguma vezes antes de dar a resposta mais irritante de todas:

— Você não me perguntou.

Sinto meu rosto esquentar igual acontecem com os personagens de desenho animado, juro que consigo ouvir o efeito sonoro de panela de pressão e sentir a fumaça saindo pelos meus ouvidos.

Quase solto um palavrão super alto, só me impeço porque bem na hora uma menina aleatória adentra o banheiro, se enfiando em uma das cabines.

Desvio o olhar da porta de metal para Eleanor outra vez, mas as palavras ficam presas na garganta quando a olho nos olhos.

Os malditos olhos de boneca que parecem atrair toda a luz em qualquer ambiente para si. E é um tom de castanho tão... Morno, como chocolate quente ou sei lá. Avelã.

Algo que derrete e ameniza toda a bagunça dos meus neurônios.

Não consigo parar de encarar e lá do fundo me surge o pensamento bobo de que seria interessante tentar pintá-los. Acertar a combinação certa de tons e por numa tela.

Tampo meu rosto com as mãos e respiro fundo, tentando recobrar o juízo. Voltar a ser eu mesma.

Passamos um ou dois minutos em silêncio. A porta entreaberta deixa o som da sirene invadir o local, como um timer pro fim do meu surto de raiva.

— Ok. Tá. Pelo menos deu tudo certo, né? Você explicou e ela perdoou. — digo, suspirando.

Empurro os óculos de volta ao nariz e olho para a outra menina de novo, mas agora driblo o vórtex dos olhos dela ao reparar em outros detalhes do seu rosto.

Franja, sobrancelhas cheias. Sardas, bochechas, nariz largo...

— Sim. A Lud inclusive disse que ia falar contigo depois.

Piercings no canto dos lábios, cílios, a boca se movendo, um vislumbre rápido da joia na língua e... Calma.

O que ela disse!?

— Quê? Falar comigo porque caralho? — saio do transe.

Dessa vez é ela quem desvia o olhar de mim. Sua postura fica tensa e ela apruma os ombros, brinca com uma das pulseiras e se vira para a porta.

— A gente tem que ir pra aula. Vamo lá.

— Ellie.

— É que... — Cavalcanti bufa, frustrada consigo mesma, imagino. — Juro que tentei Jô... M-mas ela não acreditou em mim.

Estico bem as pernas para acompanhar as passadas apressadas da outra. Como alguém tão pequeno consegue andar rápido assim?

A menor ainda balbucia mais alguma coisa, mas as vozes dos outros alunos se sobressaem.

Ela segue pelo corredor, desviando de todos com uma habilidade surpreendente, enquanto eu só levo pisões e acabo esbarrando sem querer nas pessoas, mas quando finalmente a alcanço de novo, minha mente já entendeu o que a resposta dela significa.

A Ludmila sabe que fui eu.

TEM coisas que simplesmente não devem ser feitas.

Como beber Mentos misturado com refrigerante, passar super cola nos dedos e grudar um no outro, subir numa árvore tendo medo de altura, esconder o boletim, plantar bananeira debaixo d'água e andar de bicicleta sem as mãos apoiadas no guidão.

Nenhuma dessas idiotices que já fiz — menos a bananeira embaixo d'água. Isso foi o Kaique e ele teve torcicolo — parecem relevantes perto da constatação de que menti pra minha melhor amiga e ela sabe.

Me sinto como um pirata indo pra forca, mas sem a música tocante.

— Por hoje é só gente.

A professora mal encerra a aula e todo mundo se levanta quase ao mesmo tempo, o idiota do Pedro Lucas corre desembestado pra porta, esbarrando em outros alunos e criando uma pequena gritaria.

Reviro os olhos e começo a guardar meu material na mochila.

Faço questão de por todas as canetas no estojo em vez de jogar de qualquer jeito dentro da bolsa só pra enrolar.

Olho de relance para o início da fila, onde Lud, Raquel e Lorena — a menina que apareceu com uma garrafa vazia pra brincar de Verdade ou Desafio naquela festa idiota — estão conversando. Muito provavelmente tem haver com a formatura.

Solto um suspiro frustrado, enquanto presto bastante atenção nela em busca de qualquer sinal de mau humor.

Assim... Ela parece bem? Numa escala de um a dez no Lud-armagedom diria que está em torno de três? Talvez até dois.

Mas então porquê continuo com essa sensação esquisita de que...

— Ei Jojo vou só pagar um negócio na tesouraria e aí a gente vai, belé?

Kaique surge do nada, barrando minha visão e atrapalhando meus pensamentos.

Faço uma careta ao refletir sobre o que ele acabou de falar pra mim.

— Jojo? Tiro essa dá onde em? Blé. — me sacudo como se estivesse tendo um calafrio.

Ele se retrai, meio tenso e coça a cabeça.

— Ah, você deixou a Eleanor te chamar de Jô, então pensei...

Bufo, sentindo raiva de mim mesma porque sabia que algo assim aconteceria em algum momento e mesmo assim não insisti para que Ellie parasse de usar esse apelido bobo.

Todos os anos insistindo pra me chamarem de AJ prestes a irem por água abaixo.

Fecho a mochila e fico de pé.

— Pois despense. E nada de Aninha também. — o interrompo, autoritária. Kaique solta um resmungo e solta um pedido de desculpas mal humorado. O rosto dele está vermelho e preciso de muita força de vontade para não implicar. — E é Ellie, não Eleanor. Ela prefere...

O resto da bronca morre, minha língua fica pesada e eu sinto meu coração palpitar quando olho por cima do ombro de Kaique e percebo que Lud está se despedindo das amigas.

É melhor eu vazar.

— Tá, tá, tá. Entendi. — o menino diz, enfiando as mãos nos bolsos da farda.

— Perfeito. Olha Kaique, acho que eu vou a pé mesmo. Cê vai demorar lá e tem treino hoje a tarde né?

Meu amigo junta as sobrancelhas, confuso.

— Mas-

— Tá de boa, juro. Te amanhã!

Dou um tapinha no seu ombro e então corto caminho passando por entre as cadeiras.

Não me viro de jeito nenhum, fingindo não ouvir alguém chamar meu nome. Tenho medo de que Ludmila esteja ali do lado dele. 

Eu simplesmente continuo andando, mesmo depois de passar pelo portão da escola. Não paro até chegar ao Mar Profundo, com a garganta seca e pingando de suor. 

Empurro a porta giratória do cinema e quase desmaio no carpete com formas geométricas de tanto calor. Meu óculos chega a embaçar por causa do ar-condicionado.

Mas não tenho tempo para recuperar o fôlego, estou atrasada e no pior dia possível, pois quando trombo com um dos meus colegas ele me avisa que o gerente pediu pra todo mundo ir para a sala três porque vai ter reunião.

O nosso gerente é sobrinho neto do seu Gerônimo. O nome dele é Elias Miguel e se tem algo que aprendi durante meu curto tempo na Terra, é que homens com nomes bíblicos são muito metidos. E esse em particular, além de metido, é um coroa branco que pensa que ainda está no auge dos seus vinte anos.

Por isso corro para o banheiro mais próximo para poder me trocar e mando uma mensagem pra Ceci, pedindo a ela para enrolar o Elias enquanto ponho o uniforme.

E é claro que finjo não ver as sete mensagens que Lud me enviou.

— Ok AJ, sem estresse. Ele nem vai notar que você tá atrasada. — falo, enquanto olho meu reflexo no espelho para poder ajeitar a gravata borboleta.

Fecho o zíper da mochila e antes de ir para a sala três, largo ela próxima ao meu armário, lá na salinha dos funcionários.

Ainda com os cadarços dos tênis desamarrados, corro para a reunião e tento não fazer barulho ao empurrar a porta pesada. Sou cautelosa ao me aproximar da rodinha de funcionários, mas minha altura me denuncia e assim que me vê, o gerente interrompe seu monólogo chato.

— Está atrasada garotazilla. — o filha da puta não se importa em decorar nossos nomes. Então dá apelidos idiotas.

Abro um sorriso amarelo e escondo as mãos atrás das costas para que o homem não perceba que estou torcendo os punhos.

Dei o meu melhor, mas é um daqueles dias que a escolha mais inteligente teria sido fingir uma gripe e ficar em casa e o suor que sinto escorrendo pelas minhas costas deixa toda a situação mais horrível.

— Sinto muito senhor Elias, não sabia que ia ter reunião. — forço minha voz para parecer o mais doce e inocente possível. 

Costuma funcionar com ele.

— Mais atenção da próxima vez. Eu avisei no grupo. — bufa, revirando os olhos. — E o que eu já falei sobre esse "senhor"? Qual é gurizada! Eu ainda tô na flor da idade! — ele completa, dando uma risada esganiçada.

Alguns puxa-sacos também riem, mas a maioria parece tão desconfortável quanto eu com a situação.

Com o foco fora de mim, dou mais alguns passos para perto, parando bem ao lado de Ceci.

A universitária está de braços cruzados e expressão fechada.

— Avisei no grupo meu rabo! Ele decidiu fazer essa merda em cima da hora! — ela sussurra, me arrancando uma risadinha pelo nariz.

Elias não costuma perturbar a gente tanto, na verdade ele se mantém recluso na sua sala por praticamente todo o expediente. A única coisa que o faz sair da toca é o dia de receber, pois seu Gerônimo é das antigas e vem entregar o pagamento de todo mundo em dinheiro.

Então tipo, é uma merda ter que aguentar esse cara fingindo que trabalha, mas pelo menos até o fim do dia tem grande chances de eu deixar o cinema um tiquinho menos pobre.

Ainda me esforçando para pensar positivo, deixo tudo que o gerente fala entrar por um ouvido e sair pelo outro. Na minha mente há apenas uma lista mental dos livros que vou comprar assim que chegar em casa e nos pincéis e tintas novas que estou precisando.

Garota_X
Robin Sonata

Creator

Comments (0)

See all
Add a comment

Recommendation for you

  • Secunda

    Recommendation

    Secunda

    Romance Fantasy 43.3k likes

  • What Makes a Monster

    Recommendation

    What Makes a Monster

    BL 75.3k likes

  • Invisible Boy

    Recommendation

    Invisible Boy

    LGBTQ+ 11.4k likes

  • For the Light

    Recommendation

    For the Light

    GL 19.1k likes

  • Silence | book 2

    Recommendation

    Silence | book 2

    LGBTQ+ 32.3k likes

  • Blood Moon

    Recommendation

    Blood Moon

    BL 47.6k likes

  • feeling lucky

    Feeling lucky

    Random series you may like

Arco-íris Cor de Rosa
Arco-íris Cor de Rosa

1.7k views8 subscribers

AJ sempre se sentiu como uma coadjuvante na própria vida, ou quem sabe apenas uma telespectadora que vê todas as cenas passando em câmera lenta, sem poder alterar o script. No seu último ano do ensino médio - iniciado com o pé esquerdo após uma gripe forte que a fez perder a primeira semana de aula - a dinâmica do seu grupo de amigos sofre uma mudança e tanto com a chegada de Eleanor Cavalcanti.

AJ e a garota nova criam uma antipatia pela outra logo de cara, alimentando a rinha infantil ao passar dos dias, até que durante uma festa, dada pelo melhor amigo de AJ, as duas acidentalmente ficam presas juntas.

Obrigadas a por as diferenças de lado graças a situação inusitada ambas acabam descobrindo que possuem muito mais em comum do que contra e assim um acordo de paz é selado - com uma condição um tanto... Incomum.
Subscribe

36 episodes

PATINHOS NAUFRAGADOS [parte 3]

PATINHOS NAUFRAGADOS [parte 3]

55 views 0 likes 0 comments


Style
More
Like
List
Comment

Prev
Next

Full
Exit
0
0
Prev
Next