— Troque-me de corpo. Deixe-me ficar no corpo de minha irmã, apenas por essa noite. Assim posso dançar com minha menina e ela usar o tão sonhado vestido.
— Oh! Claro. Mas antes... o feitiço não durará a noite toda. Ao último badalar do relógio, à meia-noite, tudo voltará a ser o que antes era. Não esqueça. E não se preocupe, avisarei a sua irmã também.
Cinderela concorda e espera a magia ser feita. Ela fecha os olhos e quando os abre novamente, o castelo é a primeira visão que tem. Ela olha para si e se vê em um terno elegante, sua madrasta e sua meia-irmã a chamam logo a frente, na escadaria de entrada. Cinderela está no corpo de Alex. A jovem respira fundo e caminha na direção das outras. Está nervosa, com medo de Kat não a reconhecer. Mas, como sua mãe pedira, seria corajosa e seguiria seu desejo.
O baile estava cheio, pessoas com os mais variados estilos. O salão era grande, todo em mármore com detalhes em ouro, além de pinturas e um lustre enorme e dourado com pedras penduradas que pareciam diamantes. Cinderela olhou ao redor enquanto sua família era anunciada. Passou seus olhos em cada rosto procurando por sua garota e uma forma de se aproximar. Achou-a caminhando calmamente pelo salão com algumas curvando-se em sua direção, mas ninguém a tirava para dançar. Achando ser sua oportunidade, ela desce as escadas até o meio do salão onde algumas pessoas dançam e outras conversam. A jovem aproxima-se e se curva em direção a outra e estica sua mão.
— Poderia ter a honra de dançar com vossa senhoria?
— É um cavalheiro corajoso para chegar assim em sua princesa.
— Não sou cavalheiro, vossa alteza, mas lembro-me que Kat havia prometido uma dança a sua menina do sorriso bonito.
Surpresa com a fala e em como poderia saber, Kat dá um passo para trás, mas antes que possa sair correndo dali, Cinderela toca sua mão e aperta forte, como já fizera antes na floresta, diversas vezes. E sem entender, mas dando um voto de confiança no olhar brilhoso a frente, às duas caminham juntas para onde os casais dançam e fazem o mesmo.
Dançam graciosamente pelo salão ao mesmo tempo que Cinderela lhe conta o que acontecera mais cedo naquela noite, e como havia parado no corpo de sua irmã. Kat fica fascinada com a história da fada e não deixa de acreditar um minuto sequer, ela confia naquela mulher a sua frente, mesmo que no corpo de outra pessoa. E durante o momento em que dançavam, Alex chega ao castelo e rouba toda a atenção para si. Os olhos de todos são voltados para ela, e o brilho em seu olhar é o que mais chama atenção, a mulher está radiante. Feliz. Seu sorriso é enorme e quando Kat olha para o corpo dela e depois para a pessoa à sua frente, ela entende o que Cinderela queria fazer e não poderia estar mais orgulhosa de sua menina.
Quando o relógio está perto de bater meia-noite, Cinderela percebe a hora e diz para Kat que precisam achar Alex e ter certeza de que ela deixará o castelo antes do último badalar do relógio, pois, ninguém precisa vê-la sem toda a mágica. Às duas a acham no jardim com o príncipe. Ao começar a se aproximar, o relógio bate à meia-noite, fazendo Alex e Cinderela acharem o olhar uma da outra e correrem uma em direção da outra.
— Corra para fora do castelo, eu o distraio. E depois volto para o meio da multidão.
Alex concorda e corre. Cinderela para na frente do príncipe junto à princesa e tentam o parar, mas leva segundos para ele conseguir sair de perto. Cinderela corre atrás para ter a certeza de que seu corpo estaria seguro e fora da vista do homem. Antes que possa alcançar o príncipe ou a escada e em um piscar de olhos, já não está mais no castelo e sim na carruagem que antes fora uma abóbora. No seu pé havia apenas um sapato de cristal. Na sua frente à estrada. Ao longe as últimas badaladas são ouvidas e o que era carruagem volta a ser abobora, o que eram cavalos voltam a ser ratos. E Cinderela se vê tendo que caminhar pelo resto do caminho até em casa.
Na manhã seguindo o reino inteiro só sabia falar da bela dama misteriosa e em como ela fugira do príncipe. Contudo, o que ninguém esperava era o anúncio feito pelo castelo: “O príncipe se casará com a dama que o sapatinho calçar. Não importa sua classe ou posição, toda dama deve experimentar.”. O anúncio fez a casa de Cinderela ficar em êxtase. Alex estava ainda mais feliz até Cinderela lhe puxar e dizer que o príncipe poderia ter dançado com ela, mas era o corpo e sapato de Cinderela que ele procurava e isso era um grande problema. A alegria de Alex fora embora até Cinderela contar que a princesa sabia de tudo, e que talvez pudesse ajudá-las.
— Ninguém me aceitaria como princesa ou futura rainha, Cinderela, talvez você devesse aceitar o destino e casar-se com ele.
— Não tenho interesse, meu bem. Além disso, você seria uma rainha melhor que eu.
Alex riu do comentário, mas seus olhos ainda demonstravam tristeza e as lagrimas ainda estavam ali. Ela daria tudo para que o príncipe e sua família a aceite. Ter o apoio de Cinderela era a única coisa que não a fizera desistir ainda.
No final da semana, lá estava o conselheiro real e sua guarda com o sapatinho que rodava o reino em busca da donzela que o usara no dia do baile. A pessoa com quem vossa alteza passara a noite dançando.
Uma hora antes de eles chegarem, a madrasta ouvindo a conversa entre Cinderela e Alex e escutando da mais nova que Cinderela teria chance de mudar as coisas experimentando o sapato, a mulher tomou a decisão de não permitir que Cinderela experimentasse-o. Pensando nisso, quando foi avisado que a guarda real se aproximava, a madrasta mandou todas se arrumarem e prepararem-se. Cinderela foi ao seu quarto ainda pensando em como poderia fugir dessa situação e ainda ajudar Alex. Pensava que talvez na floreste encontrasse Kat ao final do dia e poderia pedir por ajuda. Estava tão submersa em seus pensamentos que mal percebeu sua madrasta fechando sua porta e só entendeu o que acontecia quando ouviu o barulho da chave trancando. O som saindo de si em total surpresa foi motivo de uma risada deixar os lábios da mulher do outro lado da porta. Se ela não sabia o que fazer antes, agora ela estava ainda mais perdida. Pela primeira vez, Cinderela, estava feliz com uma atitude cruel de sua madrasta, pois, pelo menos não precisaria experimentar o sapato e talvez assim fosse melhor. Pensando nisso, decidiu fazer o menor barulho possível, e depois que a guarda real fosse embora, iria atrás de sua princesa e ajudaria Alex com o príncipe.
Darcy foi a segunda a experimentar o sapato e obviamente não coube em si. Frustrada, era pouco como a outra se encontrava. Alex olhava para sua mãe em desespero, queria experimentar o sapato como sua irmã e a mãe haviam feito. A mulher apenas a olhou com raiva, ela conhecia bem aquele olhar, era o que a mandava ficar quieta, a calar-se e aceitar o “certo”. Não aguentando mais, no limite de tudo, quando o conselheiro perguntou se havia mais alguma dama, Alex, pois se a falar:
— Sim, há mais uma — o olhar confuso, com sobrancelhas franzidas, quase a fez desistir — Minha meia-irmã está lá em cima. Posso ir chamá-la?
Quando os homens concordaram, ela subiu até o quarto da irmã, a porta trancada a deixou com mais raiva ainda, mas sua chave extra foi a ideia mais útil que poderia ter tido anos atrás. Ela destrancou a porta, podendo ver Cinderela deitada de olhos fechado e a respiração calma.
— Como pode dormir com tudo acontecendo?
— Eles já foram embora?
— Não. Eu disse que você estaria aqui em cima. Estão esperando por você.
Ela se levantou de supetão, surpresa com a fala da irmã. Como Alex poderia ter feito isso consigo e com ela mesma? Mas ao ouvir que foi no momento de raiva após a mãe lhe negar experimentar o sapato, Cinderela entendeu. Ela conhecia a irmã como ninguém. E pensando nisso, ela desceu os degraus e disse que experimentaria, mas levaria sua irmã consigo ao castelo. Achando estranho, o conselheiro aceitou. Assim mandando que encaixassem o sapato no pé da nova dama na sala.
O sapato coube.
Não era surpresa para Cinderela ou Alex que o maldito salto de cristal caberia em seu pé. Mas era frustrante que elas teriam que passar por tudo isso, com um conselheiro extremamente contente as levando para o castelo e dizendo como seria bom ter uma princesa estonteante como futura rainha. Cinderela queria muito responder que já tinham uma princesa perfeita no castelo, mas ficou quieta por enquanto. Preferia evitar qualquer problema.
No castelo, no tempo em que esperavam o príncipe, às duas irmãs pareciam nervosas, Cinderela estava pronta para rejeitar alguém da realeza e Alex só queria que ele gostasse de si como no baile. Quando as portas se abriram e duas figuras entraram, todo o corpo da mais velha relaxou, sua princesa também estava ali e poderia ajudar. Mas antes que qualquer pessoa pudesse dizer algo, o príncipe correu em direção de Cinderela e a abraçou. Kat fez careta. Alex também, mas seus ombros, antes tensos, agora estavam caídos em desânimo.
— É um prazer lhe conhecer vossa alteza, mas não sou eu quem procura. Sei que vai soar estranho, mas na noite do baile dancei apenas com vossa irmã, e você com a minha. — Sua mão fora direto para os ombros da mulher após sair do abraço. — Essa é a Alex.
O rosto do príncipe era de confusão pura, sua boca se abriu e fechou algumas vezes não sabendo o que falar. E percebendo isso, Kat se aproximou de sua menina e segurando sua mão levou-a dali, deixando os outros dois a sós. Antes de sair da sala, Cinderela, olhou bem para sua irmã e sorriu, lhe dando apoio. Uma boa conversa e sincera seria a melhor ideia no momento.
Cinderela e Kat não sabem o que aconteceu naquela sala, mas seja lá o que havia sido fora o suficiente para o noivado acontecer. Contudo, o que elas sabiam com certeza era que o rei jamais aceitaria seu relacionamento. Tendo ciência disso, decidiram juntas fugir. E sabendo que nenhuma outra cidade ou reino seriam seguros, decidiram que a floresta ao qual estavam sempre explorando era o melhor lugar para ficarem. Assim poderiam manter contato com os irmãos e saberem se estão bem, afinal, eram a única família das duas.
Às duas mulheres ficaram por anos na floresta, estavam bem vivendo juntas. Aproveitando cada momento sem peso nenhum ou nenhuma preocupação antes existente. E só voltaram para civilização quando o rei estava para morrer e o príncipe herdaria o trono. A volta para casa após anos foi leve e trouxe calmaria para os quatro corações que sabiam que juntos, como uma família, eram melhores que separados. Depois da coroação, não direi que viveram felizes para sempre, mas com certeza viveram, com momentos com todas as emoções e sensações possíveis, mas o mais importante, juntos.
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