「1993, fim do verão.
Um aluno do segundo ano ia para casa mais tarde que o normal de seu trabalho de meio período, e passou perto de uma floresta no caminho à estação.」
Já era meio tarde aquele dia, então peguei um corta caminho por uma trilha.
Se eu demorasse mais que aquilo meus pais não iam gostar, e eu ia acabar perdendo o trem se não usasse métodos extremos. Até o próximo passar… Ia demorar.
Eu não sou medroso, uma floresta de noite não é nada. Aquela trilha nem ia por dentro dela, era por fora, também.
Então ouvi algo...
"Hihihihi..."
"Hahahaha…"
Mais adentro da floresta, havia um grupo com algumas crianças.
Por algum motivo elas estavam rindo.
Porque haveria um grupo de crianças ali? Já era tarde da noite.
Algo sobre aquelas crianças estava estranho também, elas sorriam de um jeito… macabro.
Alguma coisa me dizia para não ir naquela direção, mas é como se eu estivesse magnetizado. E eu não podia só fazer nada depois de ver crianças não supervisionadas tão tarde da noite…
Meus pais seriam compreensivos se for por algo assim que cheguei tarde, também.
Ao chegar perto, a presença das crianças parecia cada vez mais… escura? Desconcertante?
Ou talvez o jeito certo de dizer isso fosse… Tenebrosa?
É difícil explicar, basicamente, não dava uma sensação nada boa.
Eu não podia nem ver os olhos delas, mesmo já tendo chegado bem perto.
Foi então que notei, uma delas era diferente.
Enquanto eu não consigo lembrar nada sobre as outras, eu lembro dele perfeitamente.
Era um menino com aquele penteado básico, aquele que lembra uma cuia. Ele tinha cabelo preto e olhos pretos, parecia comum.
Dentre as crianças, era o único que estava sério. Seu olhar parecia vazio e meio distante.
Quando estava quase do lado delas, ele foi o primeiro a se virar para mim.
Depois as crianças com sorrisos macabros.
...e a próxima coisa que lembro, eu estava dentro da estação, com a sensação que tinha acabado de acordar.
E bem na hora do trem chegar.
Aquele dia foi sinistro!
"...Fim."
A jovem fecha o livro de uma maneira dramática, seus cabelos loiros até dançam com a energia cinética criada.
"Um relato que um senpai do clube coletou em 1993."
Ela coloca o livro na mesa ao lado, de uma forma igualmente dramática, e aponta na direção de seus colegas com seu dedo indicador. Seus olhos azuis brilham com animação.
"Então?! Não parece perfeito para nossa investigação?!"
Seus dois colegas, que parecem acostumados com isso, suspiram.
"Não, na verdade não."
O jovem alto diz, sem hesitação. Diferente dos olhos dela, os olhos castanhos dele apresentavam preocupação.
"É perigoso ficar andando por aí tarde da noite, sabe disso, né?"
Ele suspira novamente, colocando sua mão na cabeça. Seu cabelo castanho escuro sutilmente sendo balanceado por seus dedos.
"O Makoto tá certo. Tem até uma floresta perto, vai saber o que pode tá se escondendo por lá."
O outro colega também dá sua opinião. Ele ajeita seu óculos antes de continuar, ou pelo menos queria continuar, mas é interrompido por uma jovem animada.
"Coisas sobrenaturais, ué! Para isso precisamos investigar, duh!"
Como se toda a luz dos olhos castanho escuro dele sumissem, ele mais uma vez ajeita seus óculos.
"E lá vamos nós, denovo..."
Ele pensava.
"Além disso, esse não é o único relato nessa mesma área. Tem vários, o primeiro é dos anos 80..."
"Sim Sheila, sabemos..."
"Você anda lendo um deles todo dia. Imaginei que fosse acabar nisso, mas..."
Ambos suspiram em conjunto.
"Bom se já sabem vamos lá, Makoto, Kyou! Sairemos a busca hoje mesmo!"
"Nos precisamos avisar nossos pais, não acha que vão ficar preocupados-"
"Não se preocupe, Kyou, eu avisei nossos pais semana passada."
"Semana passada?"
"E também consegui a permissão para a atividade extracurricular semana passada."
"..."
"Já peguei a verba e comprei coisas que podemos precisar também… Lanternas e etc, o de sempre sabe?"
"....."
Como se mostrando sua desistência e aceitação, ele se senta na cadeira mais próxima, como um lutador de boxe derrotado. Sheila sorri ao ver que um obstáculo foi derrubado.
Como numa luta oficial, Makoto vai até seu amigo e eles batem as mãos….
"Agora é com você, Makoto..."
Com isso, o segundo lutador entra em cena.
"Sheila… É perigoso, sabe?"
"É perto de uma estação movimentada, não é *TÃO* perigoso assim, mesmo no meio da madrugada."
"Mas-"
"E é por isso que vamos juntos, ninguém ia pensar em atacar um grupo de 3~"
"Mas e se for um grupo de pessoas-"
"Eu confio em vocês~!"
"..."
"Usar esse argumento é injusto", ele pensou.
"....."
Makoto senta ao lado de Kyou.
"Makoto..."
"Parece que não temos escolha..."
Os dois sentados, derrotados… Resistência era inútil quando Sheila queria alguma coisa do tipo, essa mesma situação se repetia quase toda vez que o "clube de investigação do oculto" realizava atividades fora da escola.
Ela sempre tinha pelo menos duas "vítimas", pessoas obrigadas a irem a lugares suspeitos com ela, Makoto e Kyou.
"Além disso, vocês dois… não deveriam estar mais preocupados com seres sobrenaturais hostis? Vocês eim..."
"Sim, sim."
Makoto diz enquanto balança a cabeça pros lados.
"Claro, claro."
Kyou faz o mesmo, o que faz seu relativamente longo cabelo preto balançar junto.
"Qualquer dia desses nos vamos encontrar um real, aí vão ver!"
Ela olha para eles com uma cara brava.
"Você diz isso toda vez, Sheila."
Makoto diz com uma cara provocativa.
"De qualquer jeito, eu quero investigar essa área a um tempo..."
Apelidado nos arquivos do clube de "crianças da estação", era um fenômeno paranormal que ela queria investigar desde que leu um relato do caso pela primeira vez.
O clube existia desde os anos 70, data de abertura da escola. Gerações de investigadores coletaram relatos e fizeram atividades do clube sobre as várias lendas da cidade.
A qualidade dos relatos variava de acordo com as gerações, junto dos tipos de lendas e histórias contadas pelos alunos, professores e pessoas de fora querendo compartilhar suas experiências com alguém.
O tempo passou, o prédio da escola era reformado, o nome do clube mudava, as pessoas iam e vinham…
Mas a paixão de alguém pelo oculto, nem que fosse só uma pessoa, manteve ele aberto todos esses anos, sendo um dos "clubes raiz" da escola.
E em todos esses anos de relatos, arquivos, pesquisas e relatórios de investigação, "crianças da estação" era um dos fenômenos com mais relatos acumulados sobre si.
E por algum motivo, mesmo assim, 0 relatórios de investigação.
Os relatos mais velhos datam dos anos 80, e os mais novos do começo dos anos 2000… Desde então a prática de dar relatos no clube diminuiu, e as pessoas só colocavam em fóruns online ao invés de ir a um clube de escola.
"Esse é obviamente um caso de ouro, 100% tem algo sobrenatural aí!"
Ela diz, triunfante.
"A mesma coisa que disse de todos os outros casos, Sheila."
Makoto responde com a cruel verdade.
"Não, mas dessa vez com certeza..."
Sua confiança começa a desmoronar…
"Você também disse isso todas as outras vezes, Sheila."
Kyou declarou, cimentando a cruel verdade.
"Mas desta vez! Certamente!! Eu garanto!!!"
Sua confiança perdida volta completamente, e mais forte que antes.
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